Ao vencedor, as batatas

By | 29/10/2017 7:00 am

 

(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)

 

Michel Temer é um vencedor. Em junho, ele se tornou o primeiro presidente do Brasil a ser alvo de uma denúncia criminal no exercício do cargo. Foi acusado de pedir propina, obstruir a Justiça e chefiar uma quadrilha, mas não perderá o cargo nem a liberdade. O caso dormirá numa gaveta até 2019.

 

Quando as gravações da JBS vieram à tona, a pinguela de Temer balançou. Ministros o aconselharam a renunciar, e aliados discutiram abertamente sua sucessão. O presidente quis pagar para ver. Pagou caro e à vista, como mostrou o noticiário sobre a negociação na Câmara.

 

Nos últimos quatro meses, o peemedebista ofereceu de tudo para manter os deputados no cabresto. Seus articuladores leiloaram cargos e emendas na bacia das almas. Até reservas na Amazônia foram rifadas no balcão de negócios do Planalto.

 

A operação de compra e venda deu resultado. Nesta quarta, a Câmara encenou o último ato da blindagem presidencial. A denúncia foi barrada por 251 votos a 233.

 

Em minoria, a oposição fez o barulho possível. Temer também foi atacado por dissidentes da base. Um deputado do PR, que controla o Ministério dos Transportes, exigiu “cadeia e algema” para o presidente. Um deputado do Solidariedade, dono do Incra, acusou-o de chefiar o “Primeiro Comando do Planalto”.

 

Os defensores do governo foram mais breves. Com medo do eleitor, muitos balbuciaram o “sim” e fugiram do microfone. A história registrará que Paulo Maluf deu o primeiro voto a favor de Temer. O voto 171 foi de Celso Jacob, o deputado presidiário. Depois de ajudar o presidente, ele voltou à sua cela na Papuda.

 

Temer se sagrou vencedor, mas terá que engolir batatas murchas e amassadas. Sua base de apoio encolheu, sua impopularidade bateu recorde e seu governo ficou ainda mais fraco e desmoralizado. Mesmo assim, ele tem o que festejar. É melhor continuar no palácio do que antecipar o encontro com os tribunais.

 

Comentário do programa – Houve quem se admirasse com a nova vitória que Temer obteve na Câmara. Mas o que é que vocês queriam? Será que deputados com o “rabo preso” como a maioria dos nossos parlamentares poderiam votar diferente. Qual o primeiro pensamento deles? “Se o Presidente da República for processado e cassado, amanhã será a minha vez.” Como diz a sabedoria popular, “vamos tirar o nosso da seringa”. E ainda tem deputado com a “cara de pau” de dizer que votou a favor de Temer para garantir verbas para seus redutos eleitorais. Apenas demonstraram que são capazes de tudo. Talvez até de vender a própria mãe. Para quem estranhou o título, é preciso recorrer ao romance Quincas Borbas, de Machado de Assis, de onde foi tirada a expressão, “ao vencedor as batatas”. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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