Relatório da PF expõe Bolsonaro como o ex-capitão que os generais deixaram na mão

By | 30/11/2024 5:20 am

Mas na hora H do dia D, a tropa não saiu do quartel. O Alto Comando não aprovou e o comandante do Exército disse não aos planos golpistas

(Francisco Leali, noi Estadão, em 29/11/2024)
Foto do author Francisco LealiO ex-presidente Jair Bolsonaro está como bicho acuado. O relatório de quase 900 páginas da Polícia Federal com o resumo das investigações até aqui sobre a tentativa de golpe de Estado expõe como o chefe do Poder Executivo não conseguiu impor suas ordens a ninguém. Ainda que o plano tenha ficado só no plano, os fatos relatados pela PF indicam que uma trupe de militares rascunhou ideias, pegou viaturas e foi às ruas só esperando um cumpra-se para apertar o gatilho.

Nos quatros anos de gestão, principalmente nos momentos mais críticos, o ex-capitão verbalizava que tinha a seu lado o “seu Exército” e as “suas Forças Armadas”. Na hora H do dia D, a tropa não saiu do quartel. O Alto Comando não aprovou, o comandante do Exército disse não. O então presidente e os seus, de fato, ficaram a pé.

Após ser indiciado por tentativa de golpe de estado, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na segunda-feira (25)
Após ser indiciado por tentativa de golpe de estado, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Brasília na segunda-feira (25) Foto: Wilton Junior/Estadao

Mas não foi só isso. Como o próprio Bolsonaro declarou dia desses, não tinha como dar golpe por conta do “after day”. O dia seguinte mencionado na língua inglesa é a remição mais direta à obstrução dos Estados Unidos, sob a presidência do democrata Joe Biden, a qualquer tentativa de não se respeitar o resultado das eleições no Brasil.

Ou seja, Bolsonaro e os seus tinham os planos, as minutas, mas não tinham quem validasse seus atos e assegurasse, no dia seguinte, que o caminho de todos não seria a prisão. Esse destino parece indicado agora no arrazoado da Polícia Federal.

As principais testemunhas e provas contra o ex-presidente vêm de oficiais militares. Há aqueles como o então comandante do Exército que deixou claro que houve conversas sobre impedir a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Ou outros que, em mensagens e arquivos digitais, deixaram o rastro do planejamento feito para manter o mito na cadeira de presidente.

O relatório da PF tem, no entanto, algo incomum. Geralmente, os protagonistas do relato de uma investigação são os investigados. É sobre eles que os encarregados do inquérito devem falar ao resumir o relatório da apuração. O documento tem algo em torno de 137,3 mil palavras. Bolsonaro aparece 521 vezes e Mauro Cid, o delator, mais de 400. Até aí normalíssimo.

Ocorre que o mesmo texto tem Moraes citado 209 vezes. E as referências não só sobre despachos do relator vinculados ao inquérito, o que seria de esperar. Moraes aparece também como alvo dos planos e, portanto, potencial vítima deles. Levanta-se então a hipótese jurídica de que seria melhor não ser o ministro o relator a cuidar do caso quando chegar a hora de a apuração criminal virar um processo que pode levar os hoje indiciados à prisão.

Deve-se ponderar que há uma diferença desse processo com aquele em que Moraes foi alvo de gritos e xingamentos no aeroporto de Roma e seus parentes também. Ali, era diretamente a vítima de uma ofensa e, portanto, não lhe caberia o lugar de juiz do caso. Já na apuração golpista, o magistrado tem poder para quebrar sigilos, ordenar buscas e coisas do gênero. No mundo político, no entanto, quando Moraes avança na direção de parlamentares da oposição que esbravejam contra o STF e seus ministros, a atuação de juiz é questionada. Moraes não precisaria de tanto. O processo já parece ter reunido provas suficientes para definir-se o grau de culpabilidade de cada um, seja do ex-presidente, seja dos fardados que não aceitavam o resultado do voto.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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