(Folha, na quinta)
Sem fazer alarde, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publicou dados represados durante as eleições que confirmam a interrupção do processo de redução da miséria.
Segundo novas informações do Ipeadata, um banco de dados digital do instituto, o número de miseráveis do país cresceu de 10,08 milhões, em 2012, para 10,45 milhões no ano passado.
Em relação à pobreza, houve uma ligeira melhora –de 30,3 milhões para 28,7 milhões de pessoas.
O aumento de 3,7% na quantidade de miseráveis confirma análises dos microdados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) feitas por pesquisadores independentes e reveladas pela Folha em outubro.
Nos números do Ipeadata, são considerados miseráveis ou indigentes os que não têm renda suficiente para uma cesta mínima de alimentos, conforme valores regionais. No caso dos pobres, a cesta mínima é um pouco maior.
Falta ainda calcular a extrema pobreza com base na linha oficial de R$ 77 mensais por pessoa, adotada no Bolsa Família.
Apesar de estatisticamente pouco expressivo, o crescimento numérico de miseráveis é o primeiro desde 2003, quando o PT chegou ao governo federal. A queda aguda da extrema pobreza nos anos seguintes foi o resultado mais celebrado pela propaganda petista.
A estagnação da queda do número de miseráveis deve impedir a presidente Dilma Rousseff de cumprir sua principal promessa: erradicar a miséria até o fim de 2014.
Feita no último dia 30, a atualização do Ipeadata não recebeu qualquer tipo de publicidade nem textos analisando os resultados.
A reportagem questionou o órgão sobre a data em que os cálculos seriam tornados públicos. Não houve resposta. Nesta quarta (5), a assessoria do órgão informou que a atualização da base de dados foi similar à feita no ano passado.
Os dados poderiam ter sido divulgados há cerca de um mês. Mas, alegando restrições legais e a opção de não afetar o processo eleitoral, o Ipea decidiu adiar a publicação.
O órgão nunca detalhou que aspecto da lei impedia a divulgação. A mesma precaução não foi adotada em 2010, por exemplo. Naquele ano, o instituto publicou os dados (então favoráveis) em 5 de outubro, entre o 1º e o 2º turno.
A postergação provocou uma crise interna no Ipea. O diretor da área social, Herton Araújo, insistiu para que o instituto divulgasse os números. Diante da negativa da cúpula do órgão, ele decidiu colocar seu cargo à disposição.
O Ipea negou à época que houvesse qualquer estudo pronto sobre os resultados da Pnad-2013. Mas, segundo a Folha apurou, Araújo e sua equipe já sabiam que o número de miseráveis tinha subido quando ele tentou dissuadir o instituto de impedir a divulgação.
O afastamento de Araújo, pedido em reunião no dia 9 de outubro, demorou cerca de três semanas para ser oficializado. Só foi publicado no “Diário Oficial” desta terça-feira (4).
Comentário do programa – Trocando em miúdos. O governo escondeu dados que provavam que a miséria não foi vencida. Isto contrariaria as louvaminhas que se faz do bolsa-família como panaceia contra a miséria. Afinal desde que o mundo é mundo que se dá esmola e nunca se conseguiu, em país nenhum do planeta terra, se acabar com a miséria. Só promovendo o homem, dando-lhe educação, dando-lhe formação profissional, dando-lhe oportunidade de emprego e renda é que se pode tirá-lo da miséria. O bolsa-família está viciando o brasileiro a não trabalhar e esperar pelo governo. Não somos contra a bolsa em si. Somos contra a forma que tem o programa. O bolsa-família é importante como medida emergencial, assim como o seguro-desemprego. Enquanto o trabalhador consegue um trabalho. Tornar a bolsa permanente só vicia o cidadão, como diziam Luiz Gonzaga e Zé Dantas, sessenta anos atrás, com relação às esmolas que se dava aos nordestinos a cada seca que nos afligia. As “emergências” fizeram a fortuna de muita gente e eram saudadas pelos pobres como um milagre caído do céu. Lembram como as mulheres ficaram felizes quando Burity as dispensou do trabalho na emergência. Claro que os mais novos não lembram disso, mas podem perguntar a quem tenha mais de sessenta anos. (LGLM)