Cuspindo na cara do povo (*)

By | 27/12/2014 8:31 pm

(Publicado no Patos Online)

Os vereadores patoenses deram mais uma vez demonstração de que não têm o menor respeito pela comunidade que dizem representar. Ao derrotar um projeto de iniciativa popular subscrito por mais de quatro mil eleitores, deram uma demonstração cabal desta falta de respeito. Imaginem quatro mil eleitores nas ruas numa manifestação contra ou a favor de qualquer coisa. Será que eles tinham coragem de subir num palanque, numa carroceria de caminhão ou mesmo um tamborete e dizer aos quatro mil manifestantes que não atenderiam ao que eles estavam pleiteando? Na sessão em que iam votar contra o projeto de iniciativa popular estavam com tanto medo que pediram proteção policial. Mas uma coisa que chamou a atenção dos que acompanham o dia-a-dia da nossa Câmara foi a mudança de voto de alguns vereadores. Vereador que faltou na sessão em que o projeto de mudança de nome foi aprovado, disse a mim que se estivesse na Câmara não teria votado a favor do projeto e agora “cagou na rabichola” e votou contra o projeto de iniciativa popular. Outros vereadores que também diziam que iam aprovar o projeto de iniciativa popular na hora agá votaram contra. O que todo mundo pergunta é por que esta mudança de posicionamento destes vereadores. Que argumentos morais, sociais ou financeiros fez com que mudassem de ideia? Muita gente diz que rolou dinheiro nesta história. Mas aí fica outra pergunta: quem teria pago a eles?

Nos comentários que fizeram ao artigo de José Augusto Longo, quando de sua publicação no Patos Online, pinçamos um deles muito interessante: “Para leis ruins, desobediência civil. E’ só’ continuar usando o nome Vidal de Negreiros…” Ou seja, quem não concordar com o novo nome é só continuar utilizando o nome antigo. Há inclusive um exemplo que fez história em nossa cidade. Na década de cinquenta, salvo engano, mudaram o nome rua do Prado para Coronel Antônio Pessoa. Só que moradores e comerciantes da rua continuaram a usar o nome antigo e o nome novo foi esquecido por todos. Em consequência disso, no final da década de sessenta, a Câmara de Vereadores restaurou o nome que até hoje aquela rua ostenta. Quem nasceu ou chegou a Patos nos últimos quarenta anos não sabe nem onde ficava esta rua que continua até hoje como Rua do Prado.

O próprio tempo se encarregará de corrigir a falta de respeito que nossos vereadores tiveram para com o primeiro projeto de iniciativa popular apresentado em nossa Câmara, subscrito por quatro mil eleitores. No dia em que os patrocinadores da mudança do nome da rua Vidal de Negreiros forem “varridos” da Câmara alguém votará para que retorne ao nome tradicional. Isto, se a Justiça, não anular a lei que provocou a mudança que é simplesmente inconstitucional, já que lei anterior proibia a mudança de nomes e foi derrogada no mesmo projeto que fez a mudança atual. Ou seja antes de ser sancionado o direito de mudança, fizeram uma mudança.

Com relação ao poder de uma iniciativa popular, não podemos esquecer a Lei da Ficha Limpa. Uma Lei que todo mundo hoje elogia pela limpeza que está fazendo no mundo da política originou-se de um projeto de iniciativa popular subscrito por apenas um milhão e seiscentos mil eleitores. Foi em respeito a estes um milhão e seiscentos mil eleitores que o Congresso aprovou a matéria, mesmo sabendo muitos dos parlamentares que mais na frente seriam punidos com base nesta mesma Lei. Mas afinal, apesar de centenas de picaretas que lá têm assento, o Congresso Nacional merece mais respeito do que os nossos subservientes vereadores. (LGLM)

PS – Depois que publicamos esta matéria, o companheiro Adilton Dias, que é pesquisador destas coisas, corrigiu uma informação que déramos na referida matéria. A rua do Prado retomou seu nome em lei sancionada pelo então prefeito Dr. Olavo Nóbrega, em 07 de agosto de 1972 e não no final da década de sessenta como dissemos. E relatou um fato interessante que se liga àquela rua. Depois da morte do ex-deputado José Afonso Gaioso, morador na rua e que fora um dos defensores da ideia de que a rua voltasse a se chamar do Prado, o ex-vereador  Nivaldo Sátiro, deu entrada a um projeto mudando o nome da rua do Prado para Deputado José Gaioso. Tomando conhecimento do projeto, Virgílio fez um comentário contra a mudança, lembrando que ao invés de homenageá-lo, a mudança afrontaria Zé Gaioso que fora defensor intransigente do nome tradicional de Rua do Prado, rua em que nascera e se criara, assim como seus filhos. Depois do comentário de Virgílio a viúva de Gaioso, dona Terezinha, procurou Virgílio e disse concordar com ele com relação à manutenção do nome rua do Prado. Diante disso Nivaldo desistiu do projeto de mudança. Adilton lembrou dois outros casos de mudança de nome com que a população não concordou e que virou letra morta. A rua 26 de julho, ao lado do antigo cinema São Francisco teve o nome mudado para Antônio de Sousa Gomes, em homenagem ao sogro do ex-prefeito Bivar Olinto e vice-prefeito de Darcílio Wanderley, mas até hoje todo mundo só usa o nome original. Outra rua que teve o nome mudado e até hoje se usa o nome original é a rua do Nego, que nasce na rua do Prado e termina na rua dos Dezoito. Alguém mudou o nome dela para Dom Adauto em homenagem a Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, primeiro bispo e primeiro arcebispo da Paraíba. Quase ninguém tomou conhecimento desta homenagem das mais merecidas e a homenagem virou letra morta. Estão aí dois nomes que podem ser homenageados pelos nossos vereadores que têm a seu cargo nomear cerca de quatrocentas ruas sem nome em nossa cidade, homenageando Antônio de Sousa Gomes e Dom Adauto. Aliás, se não for ainda nome de rua, Zé Gaioso bem que o merece. Cognominado a “Baraúna do Prado” foi nosso bravo representante na Assembleia Legislativa por sete mandatos e defensor intransigente da cultura do algodão, riqueza dos sertanejos daquela época. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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