(Renato Andrade, colunista da Folha)
A foto oficial dos ministros de 2015 terá muito mais a cara de Dilma do que a imagem de 2011.
O grupo escolhido até o momento reflete, em boa medida, a disposição da presidente de transformar em realidade uma confidência feita dois dias antes do final das eleições.
Logo após o último debate na TV, Dilma disse para um seleto grupo de assessores que se sentia “livre”.
A desobrigação de enfrentar uma nova disputa eleitoral em 2018 abriria as portas para que ela pudesse ser menos a “cria de Lula” e começasse a tocar as coisas mais do seu jeito.
A escolha dos integrantes da equipe econômica foi o primeiro movimento de maior autonomia da presidente frente seu antecessor.
Lula tentou emplacar um nome de confiança no comando da Fazenda. Dilma deixou de lado a sugestão e bancou Joaquim Levy, para desgosto de parte dos petistas e, em especial, de Guido Mantega, que vive como futuro ex-ministro desde outubro.
A composição do quadro de auxiliares com assento no Planalto também é outro exemplo desse processo de libertação. Gilberto Carvalho, fiel escudeiro de Lula, dará lugar para um nome mais próximo da petista, o gaúcho Miguel Rossetto. Ricardo Berzoini, outro velho aliado lulista, também deve mudar de endereço.
A figura mais emblemática dos ministros palacianos é Aloizio Mercadante. Ele sempre esteve pronto para cumprir as tarefas impostas pelo comandante, mas jamais alcançou, durante os anos Lula, lugar de destaque. O poder, de fato, veio pelas mãos da ex-colega de ministério.
Nem todas as amarras foram desfeitas. O PMDB, eterno aliado de quem manda, pressionou por mais espaço e levou. Outros partidos da base também receberam seu quinhão. Mas o tempero Dilma está espalhado na lista de contemplados.
Acertos e erros resultantes dessas escolhas só poderão ser analisados mais adiante. Mas é salutar assistir um presidente eleito escolher com quem pretende enfrentar o jogo.