(Folha da segunda)
O PMDB da Câmara dos Deputados articulou uma estratégia nos bastidores com o presidente da CPI da Petrobras para isolar o PT na nova comissão e limitar os trabalhos de investigação aos governos Lula e Dilma (2005-2015), como quer a oposição.
A operação do partido com Hugo Motta (PMDB-PB), eleito presidente da CPI na semana passada, visa desidratar os planos do relator da comissão, Luiz Sérgio (PT-RJ), de investigar desvios na estatal desde o período do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Sérgio vai apresentar seu calendário de atuação na próxima quinta, mas na semana passada afirmou que seria importante levar a investigação para o período de FHC.
O relator se baseia no depoimento do ex-gerente Pedro Barusco que, em sua delação premiada, afirmou à Polícia Federal que começou a receber propina entre 1997 e 1998, da empresa holandesa SBM Offshore.
Barusco também relatou que o esquema da Petrobras rendera ao PT entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões entre 2003 e 2013.
Nos últimos dias, peemedebistas articularam com Motta um cronograma para a CPI, onde também ficou decidido que será criada uma sub-relatoria para tentar recuperar ativos da Petrobras no exterior.
Entre os atos ilícitos no foco da CPI estão supostas irregularidades na venda de ativos da Petrobras na África.
O presidente da CPI vai propor nesta semana a criação de quatro sub-relatorias para investigar objetos previstos no requerimento de abertura da CPI.
Uma delas será para devassar contas de delatores do esquema da Petrobras, com a ajuda de uma empresa de investigação privada que será contratada pela comissão.
Parlamentares dizem que, regimentalmente, o presidente da CPI pode indicar sub-relatores, sem precisar passar por votação, para apurar fatos determinados previsto na CPI, assim como ele é responsável por indicar o relator.
No entanto, a criação dessas sub-relatorias e a restrição das investigações apenas às irregularidades ocorridas após 2005 podem ser contestadas, segundo os deputados.
Cabe recurso de partidos ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que de todo modo deve manter a decisão do colega de partido que comanda a CPI.
A alegação de parlamentares ouvidos pela reportagem é que investigações da estatal sob a gestão tucana foge do escopo da CPI.
A ementa do requerimento que criou a CPI diz que a finalidade da comissão é ”investigar a prática de atos ilícitos e irregulares no âmbito da empresa Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras), entre os anos de 2005 e 2015”. O governo Fernando Henrique Cardoso terminou em 2002.
A CPI também deve dispor de verbas ”sem limites” para investigações. A ideia de membros da comissão é tentar mostrar que não será uma ”CPI de fachada” que ficará a reboque da Polícia Federal e do Ministério Público Federal e com risco de de repetir o modelo da comissão encerrada na legislatura passada.
Em dezembro, a primeira CPI da Petrobras aprovou o relatório do petista Marco Maia (RS) pedindo o indiciamento de 52 pessoas. O documento não incluiu políticos nem a então presidente da estatal, Graça Foster.
Junto à oposição, os peemedebistas também pretendem convocar todos os ex-diretores da Petrobras indicados pelo PT para prestar esclarecimentos sobre o esquema de corrupção na nova CPI.