E o Brasil se vestiu de Brasil

By | 22/03/2015 6:55 am

(José Augusto Longo, no Patos Online)

Nos últimos dias treze e quinze, o Brasil presenciou cenas que deverão ficar gravadas eternamente no seio do seu povo. Nesses dois dias brasileiros de todos os matizes, de todas as classes sociais foram às ruas clamar por seus direitos.

Irritado com o que vem acontecendo depois das eleições, onde tudo que foi dito pela presidente Dilma virou fumaça, o povo foi às ruas gritar contra os avanços da inflação, a alta no preço dos combustíveis, da energia elétrica; contra o corte em direitos trabalhistas adquiridos há anos; irritado com  a falta de segurança, com o corte nas verbas para educação, com a alta dos juros. De ponta a ponta do território nacional, milhares de brasileiros, vestidos de verde, amarelo, azul e branco, desfilaram pacificamente, numa demonstração de amadurecimento democrático, cada um exibindo faixas com as reivindicações mais diversas.

Foi de veras, um espetáculo deslumbrante.

O mais interessante, é que as duas manifestações divergiam em seu componente. Na sexta, dia treze, adeptos do Partido dos Trabalhadores, junto à CUT, MST e outras siglas da chamada esquerda brasileira, clamavam pela manutenção da presidente, enquanto que no domingo, dia quinze, o que se presenciou foi grande parte dos manifestantes, pedindo o seu afastamento.

Os petistas, que anos atrás gritavam o “Fora FHC”, hoje classificam os que domingo foram às ruas de golpistas, esquecendo-se do que fizeram em passado bem recente, enquanto os porta-vozes dos que  protestaram no domingo, pelas redes sociais, classificam os petistas da sexta, de espernearem contra a possibilidade de “perderem o cocho onde hoje comem e se lambuzam”.

Na verdade, como a indignação dos brasileiros é imensa, não é possível se organizar um movimento com apenas uma reivindicação como outrora fizeram os  petistas.

Hoje, a  coisa é diferente, pela enxurrada de mentiras pregadas na última campanha. Cada pessoa sente na pele uma revolta diferente, daí termos visto faixas pregando infindas reivindicações.

Na maioria delas, a fixação da revolta contra a presidente, pedia o seu afastamento sumário, naturalmente pensando estes que a simples cassação do mandato de Dilma resolveria todos os problemas que hoje se vive neste Brasil desgovernado. Tirar a presidente que mentiu descaradamente em seus discursos durante a campanha, num verdadeiro estelionato eleitoral,  é muito fácil. Basta o Congresso Nacional, pressionado pelo povo se reunir e deliberar pela cassação, a exemplo do que fizeram com o ex-presidente Collor. Simples, muito simples.

Ocorre que com Collor a coisa foi diferente, não havia a esculhambação que existe hoje, onde quase todos os setores da administração estão contaminados pela roubalheira sem freio. Na linha sucessória da época, havia gente séria, descomprometida com a safadeza de agora. Quem o substituiu foi um mineiro decente chamado Itamar Franco, que a  maior de todas as preocupações de momento era o combate à inflação desenfreada, o que foi conseguido com o Plano Real.

No Brasil em que vivemos agora, existe um verdadeiro mar de lama, onde estão vergonhosamente atolados políticos de quase todos os partidos com representação no Congresso Nacional, gente grossa do Executivo, empresários antes tidos como sérios e gestores públicos, a exemplo dos da Petrobrás, empresa investigada e que oferece ao mundo, o maior escândalo da história. Tira-se a mentirosa Dilma e coloca quem em seu lugar? Quem na sua linha sucessória pode se apresentar com a mesma dignidade do mineiro Itamar? O vice Michel Temer, que é Presidente de Honra do PMDB, partido onde vários dos seus mais influentes líderes estão sendo denunciados por corrupção, a exemplo dos presidentes do Senado e da Câmara? Do PP de Maluf e Agnaldo? Do PSDB de Aécio – que perdeu a eleição e insufla para que o tema “impeachment” seja levado às ruas -, legenda que tem como líder no Senado o nosso velho conhecido Cássio, cassado quando governador, pelo mau uso do erário? Quem? Quem seria o Itamar de hoje?

O que o Brasil  precisa e com certeza não acontecerá sem a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, é de uma reforma política ampla, onde sejam removidos vícios que dão ensejo à corrupção desenfreada em que vivemos. Urge, por exemplo, que o financiamento de campanha seja público e que haja uma rígida fiscalização por parte da Justiça Eleitoral a esse respeito; que se acabe definitivamente com  o câncer da reeleição, uma verdadeira fábrica de ladrões do erário; que se institua o voto distrital, mesmo que seja misto, como acontece em países desenvolvidos da Europa; que se estabeleça a coincidência das eleições em todos os níveis; que se acabe com  a figura do suplente de senador; que o voto hoje proporcional passe ao regime majoritário, onde ganhe aquele candidato que o povo eleger em maioria de votos; que as  exageradas regalias de parlamentares sejam cortadas e que cada um faça jus, apenas.  ao trabalho realizado em suas Casas legislativas, dentro da nossa realidade econômica; que se criem leis rígidas para o julgamento de corruptos no desempenho das funções públicas, enfim, tirar de políticos e gestores públicos todas as chances de cometerem abusos e ficarem impunes. É isso que precisamos e temos urgência.

Quanto a presidente Dilma que mentiu descaradamente na última campanha, que tenha a humildade de rever seus atos; que diminua os gastos do seu governo com dezenas de ministérios criados, apenas, para dar empregos a apaniguados; que tenha a decência de banir do governo todos aqueles que lá estão somente esperando a hora de dar o bote, não apenas correligionários seus do PT, assim como de outros partidos que lhes dão apoio; que tenha a coragem de promover uma completa varredura, tirando do seu entorno, vagabundos que nada mais fazem, além de se locupletarem dos cargos e favores oficiais.

Ela ganhou no voto, mesmo mentindo, mas ganhou no voto; Aécio perdeu, porque a maioria dos brasileiros nele não confiou. Prevaleceu a democracia. Por esta democracia todos nós, sobretudo os mais velhos, lutamos com ardor. Somente os que desconhecem a praga da ditadura, tal qual a chamada estrema direita, pedem a volta dos militares ao poder, o que seria um estremo retrocesso. Mas esses representam uma minoria insignificante, que não preocupa no momento.

Precisamos ir novamente às ruas lutar pelos nossos direitos, insistir para que este Congresso enxovalhado edite leis que os dignifiquem e não que acobertem seus malfeitos.

Se todas as reformas necessárias forem feitas dentro das normas legais, mesmo com Dilma, o Brasil ressuscitará, sairá da lama em que foi enterrado e seu povo voltará a sorrir, feliz da vida.

(josaugusto09@gmail.com)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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