(na Folha deste domingo)
A despeito da escalada de relatos de superfaturamento e propinas nos últimos meses, a maioria dos brasileiros considera que a Petrobras deve permanecer sob o comando do governo federal.
Pesquisa feita pelo Datafolha dá números mais precisos e atuais a essa preferência, conhecida no mundo político: 61% dos entrevistados no país disseram ser contra a privatização da empresa.
Apenas 24% defenderam a venda do controle da companhia, que vive a maior crise desde sua criação, em 1953. Outros 5% se disseram indiferentes, e 10% não souberam responder. Foi a primeira vez que o instituto perguntou sobre o tema.
O levantamento –o mesmo que captou a reprovação recorde à presidente Dilma Rousseff– ouviu 2.842 eleitores nos dois dias seguintes às manifestações de domingo (15) contra o governo.
Os dados mostram que a venda da petroleira é rejeitada em todas as faixas de renda, de idade e escolaridade, em todas as regiões do país e independentemente de inclinação partidária.
A rejeição chega a 67% entre os que declaram preferência pelo PT –em suas campanhas eleitorais, o partido ataca supostas intenções privatistas de seus rivais do PSDB.
Entre os simpatizantes dos tucanos, são 56% contrários e 35% favoráveis.
Os resultados ajudam a entender por que a privatização da maior empresa nacional em patrimônio está fora da pauta política do país. Mas o embate ideológico em torno da estatal persiste.
A crise da companhia –que, além dos escândalos de corrupção, inclui a disparada do endividamento e a derrocada do seu valor de mercado– pôs em xeque o modelo estatista e nacionalista em vigor no setor petrolífero.
Independentemente da opinião pública e da orientação oficial, a Petrobras está hoje longe de dispor dos recursos necessários para arcar com as obrigações associadas à exploração da gigantesca reserva do pré-sal.
Entre os exemplos principais, está a determinação legal de que a estatal seja a única operadora dos campos do pré-sal, com participação mínima de 30% no empreendimento, o que demandará investimentos crescentes.
Há ainda exigências de percentuais mínimos de produtos nacionais nos equipamentos comprados para a operação, o que significa custos mais elevados.
Em contraste com tais ambições, a Petrobras enfrenta dificuldades para fechar as contas, ainda não conseguiu publicar o balanço de 2014 e iniciou um plano de desinvestimentos –venda de negócios e patrimônio no Brasil e no exterior– de US$ 13,7 bilhões.
Defensivamente, governo e PT acusam os críticos da corrupção na Petrobras de pretenderem rever o modelo de partilha, que estabelece a hegemonia da empresa no pré-sal, e a política de conteúdo nacional.
Em resposta à crise, a estatal ganhou uma diretoria de Governança, dedicada a zelar pelo cumprimento de normas internas e das impostas às empresas listadas em Bolsa –embora o governo detenha a maioria das ações com direito à voto, a maior parte do capital da Petrobras é negociada no mercado.
PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS
São contrários à privatização
61% dos entrevistados
67% dos que declaram preferência pelo PT
56% dos que preferem o PSDB
Comentário do programa – Sequer pensar em privatizar a Petrobrás fica parecido com a história do “corno” que vendeu o sofá da sala, quando soube que a mulher o estava traindo no sofá. A não ser que a tentação de receber a comissão seja invencível. (LGLM)