Sobre o diploma de jornalismo (*)

By | 11/04/2015 8:30 pm

(Luiz Gonzaga Lima de Morais, publicado no Patos Online)

Têm surgido alguns desacordos entre os praticantes de jornalismo na cidade de Patos sobre o projeto em discussão no Congresso Nacional que visa tornar obrigatório o diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Temos defendido a aprovação do projeto não como uma reserva de mercado para os que passamos pelas escolas de jornalismo, mas como uma maneira de melhorar a prática do jornalismo.

O simples fato de ter um diploma de jornalista não vai garantir a ninguém que se seja um bom profissional. É preciso ter vocação, é preciso ter dedicação, é preciso ter prática, é preciso ter conteúdo, mas é muito importante também ter uma formação específica para o exercício da profissão.   Quem não conhece médicos, advogados, engenheiros, economistas, enfermeiros, professores que não exercem a profissão por terem se desencantado por ela e por não se sentirem vocacionados para ela.

Mas por outro lado, quanto desastres não aconteceriam se pessoas sem uma formação específica fossem por aí afora exercendo profissões para as quais não estivessem devidamente habilitados. Claro que a prática é importante. Tenho um amigo a quem recorro quando tenho problemas comuns de saúde. Confio mais nele de que em muitos médicos mal preparados. Mas o meu amigo é o primeiro a me recomendar que procure um médico quando percebe que o caso precisa de alguém que seja especialista no assunto ou seja que tenha uma formação específica.

A defesa da obrigatoriedade do diploma não deve ser vista como um demérito para quem não o obteve. A própria lei que regulamentou a profissão permitiu que aqueles que a praticavam fossem registrados na época, mesmo sem terem um diploma. E, mesmo depois de formado, recebi muitas lições de colegas que nunca conseguiram um diploma como jornalistas e os respeito como tal até hoje.

Por outro lado, isto não quer dizer que todo aquele que passou por uma faculdade de jornalismo está preparado para exercer com excelência a profissão. Temos em Patos excelentes profissionais, em emissoras de rádio, “sites” de internet, jornais e televisão. Mas temos lido ou ouvido textos de jornalistas que fazem corar o antigo professor de Português do Colégio Estadual de Patos que fomos cinquenta anos atrás. Temos lido textos de jornalistas que apesar de escreverem bem não têm o mínimo de equilíbrio naquilo que defendem. Matérias em que a ética jornalística passou muito longe. Exemplos de profissionais alugados a quem lhe pague melhor, mesmo que a questão defendida não seja das mais justas. Claro que ninguém é perfeito, absolutamente imparcial ou invendável. Mas pelo menos o profissional tem que estar sempre buscando ser o melhor possível, o que é válido para qualquer profissão, a menos que se não a respeite.

Um médico que venda atestados está se prostituindo. Um engenheiro que use os piores materiais está desrespeitando a sua profissão. Um advogado que busque burlar a lei na defesa inconsequente do seu constituinte está se rebaixando profissionalmente. Em toda profissão há maus profissionais, mas o mínimo que se exige de todos eles é preparo intelectual, prática e respeito à ética de sua profissão. O simples diploma não garante isso, mas mostra que pelo menos alguma coisa lhe foi ensinada, cabendo ao público que vai utilizar os seus serviços julgar se ele é bom profissional ou não. Como o cidadão comum não está na maioria das vezes habilitado a julgar um bom profissional, o mínimo que se exige é que este exiba um diploma de que pretensamente se habilitou para o exercício daquela profissão.

Apesar de ter passado por uma escola de jornalismo há quase quarenta anos, continuo a aprender a cada dia e alguns dos meus melhores professores (Virgílio, Zé Augusto, Jurandir Marques, Edleuson Franco) não tinham passado pela escola (de jornalismo, claro). Apesar disso entendo que o curso de jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco onde colei grau é responsável, em grande parte, pelo que possa ter de sucesso como jornalista, mesmo exercendo a profissão como simples amador.

Mesmo hoje, em tempos de curso de jornalismo aqui mesmo em Patos, temos excelentes praticantes de jornalismo sem terem passado por aquele curso. Brilhantes repórteres, excelentes redatores, eficientes comunicadores. Mas, sinceramente, eles serão muito melhores se fizerem um esforço para se graduarem. E nunca é tarde para isso.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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