Balanço, mas não caio

By | 25/04/2015 7:05 pm

(Ruth de Aquino, colunista da revista Época)

O balanço da Petrobras, a “joia” das estatais brasileiras, é uma confissão pública da abissal incompetência da presidente Dilma Rousseff. Bastaram dois anos, 2013 e 2014, para que 23 anos de lucros e distribuição de dividendos da Petrobras fossem abortados pela mãe do PAE (Programa de Aceleração do Endividamento). O lucro de R$ 23,6 bilhões virou prejuízo de R$ 21,6 bilhões. Os desvios das propinas foram de R$ 6,2 bilhões. A desvalorização de ativos da Petrobras chegou a R$ 44,6 bilhões. Perdão pelo enfileiramento de bilhões que nenhum de nós consegue sequer visualizar. Mas a divulgação do balanço foi tão elogiada como início de um novo ciclo de transparência e profissionalização da Petrobras que os números precisam ser trombeteados.
Dilma Vana Rousseff não concluiu os cursos de mestrado e doutorado em ciências econômicas na Unicamp, apesar de constarem em seu currículo (ela já admitiu o erro). Mas sua vida foi pautada por números. Seu primeiro cargo executivo foi como secretária municipal da Fazenda em Porto Alegre, em 1985, há 30 anos. Ao deixar a Secretaria, em 1988, tentou convencer seu substituto a não assumir o cargo: “Não assume não, que isso pode manchar tua biografia. Eu não consigo controlar esses loucos e estou saindo antes que manche a minha”.
Dilma começou a escalar o setor de Minas e Energia. Foi dona da Pasta no ministério de Lula. E presidiu o Conselho de Administração da Petrobras até 2010, quando se elegeu presidente. Seu fiador era Lula. Ela foi a escolhida com base nos seguintes quesitos: era especialista em energia, eficiente como “gerentona” (gerente durona), mulher e mãe. Sua escolha não contou com o apoio do Partido. Dilma foi imposta por Lula. Era considerada um poste. E um poste sem luz própria, sem flexibilidade, sem gosto pela conversa e sem dom de oratória. Por tudo isso, Dilma é hoje presa fácil dos políticos profissionais, que fazem dela gato e sapato.
O balanço da Petrobras revela o imenso desastre de uma presidente perdida em seu primeiro mandato e, mais ainda, no segundo. Percebam que não dá para aceitar sem ressalvas o balanço divulgado. Quem diz que a propina foi de “apenas” R$ 6,2 bilhões? Ah, os delatores, que confessaram uma percentagem tal sobre os contratos. Quem diz que o prejuízo foi de “apenas” R$ 21,6 bilhões em 2014? Ah sim, o balanço foi auditado.
O balanço não foi aprovado por unanimidade. Dois dos cinco conselheiros fiscais não assinaram o documento. Eles representam acionistas minoritários e trabalhadores. Só para refrescar a memória, a ex-presidente da Petrobras, Graça Foster, caiu porque havia calculado a perda total da Petrobras em R$ 88,6 bilhões, o dobro do que foi admitido agora, de R$ 44,6 bilhões. Graça – ou “Graciosa”, o apelido dado pela chefe – era, segundo o staff do Palácio da Alvorada, a única assessora que podia dormir na residência oficial de Dilma quando ia a Brasília. Caiu em desgraça por querer divulgar números mais catastróficos que os revelados agora. Por que, então, eu ou você devemos crer no balanço?
Devemos crer porque queremos que o Brasil passe a dar certo. O brasileiro não quer perder o otimismo, quer ver uma luz no fim do túnel. Mesmo que a reconstrução leve anos. Essa é uma boa razão. Mas não é alentador o panorama em torno do fosso moral e financeiro da Petrobras. O novo presidente, Aldemir Bendine, pede desculpas e se diz envergonhado pelo que encontrou na estatal. Desmandos, corrupção, roubalheira, péssimas decisões de investimento, interferência política. Só que Bendine acabou de entrar. Ele não tem nada a ver com isso. E Dilma? E Lula? Nada, nada mesmo?
Precisamos crer na boa intenção de Dilma. Ela não quer ficar na História como a pior presidente do Brasil. Suas ações são, no entanto, claudicantes. Típicas de alguém que não sabe mais o que fazer. Dilma insiste em manter 38 ministérios. Isso não tem desculpa, não tem perdão. Ela está paralisada. Com receio de retaliação do Congresso, Dilma triplicou o Fundo Partidário para R$ 868 milhões neste ano, a pedido do senador Romero Jucá, do PMDB. As raposas esfomeadas do Congresso querem compensar a perda de doações empresariais. O presidente do Senado, Renan Calheiros, tirou proveito para alfinetar sua ex-amiga Dilma. Criticou-a por esbanjar em momento de ajuste. Ela tentou se defender. Disse ter cedido a um apelo do Legislativo. Tá ruço, Dilma. Não é mais “ou dá ou desce”. É “dá e desce”. Por tudo isso, pela carestia da vida e pelas mentiras desmascaradas, as panelas fazem estardalhaço nas janelas. Não é só pela Petrobras.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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