(José Augusto Longo, no Patos Online)
A exemplo de outra comissão idêntica, idealizada pelo ex-presidente Ricardo Marcelo – matéria publicada neste espaço, batizada de “A Caravana dos Hipócritas”, da lavra do jornalista Tião Lucena – que percorreu o Estado de ponta a ponta, em ônibus executivo abarrotada de deputados que faziam uma festa em cada parada e que não deu em absolutamente nada, também agora, capitaneada pelo deputado cajazeirense Jeová Campos, uma outra caravana, chamada de “Frente Parlamentar da Água”, perambula, sertão a fora, para, segundo os próprios deputados, verificar, in loco, a situação em que se encontram nossos mananciais, todos secos ou quase secos, em consequência da estiagem que já dura alguns anos.
Idêntica à primeira, também esta, é totalmente desprovida de propósitos. Todos os senhores deputados integrantes de tal comissão, são oriundos do sertão, portanto, sabedores, igualmente a nós, da real situação em que nos encontramos com relação ao problema hídrico. Aqui em Patos, por exemplo, quatro parlamentares se reuniram, depois de antecipados chamamentos, na Câmara de Vereadores e, durante algum tempo, jogaram conversa fora, repetindo os mesmos discursos fajutas que, naturalmente, espalham por onde passam. Ocuparam a tribuna da Casa de Juvenal Lúcio, caprichosamente ornamentada para recebê-los, Janduhy Carneiro, de Pombal; Nabor Wanderley de Patos; Antônio Mineral, de Areia de Baraúna e o próprio Jeová Campos, de Cajazeiras. Portanto, como veem os senhores, nenhum do Paraná ou do Rio Grande do Sul, que, se assim fossem, até que justificaria às suas presenças.
Dizem os parlamentares, que tais reuniões servirão para que façam uma radiografia dos problemas acarretados pela seca, coisa que eles sabem de cor e salteado. Será que Jeová, de Cajazeiras, ainda não sabe que o Engenheiro Avidos está com cota mínima; será que Janduhy desconhece que Coremas está com menos de vinte e cinco por cento de sua capacidade e que a vazão da sangria que abastece Pombal, está em vias de colapso; será que Nabor e Mineral desconhecem que Jatobá e Farinha estão quase que totalmente secos e que dependemos, apenas do sistema Coremas/Mãe D’Água, na situação em que se encontra, e dependendo, ainda, de uma adutora feita de papelão, que quase todos os dias estoura? Ora, tenham paciência, vão procurar coisa mais produtiva pra fazer na Assembleia, ao invés de andarem por ai pregando no deserto, utilizando a seca para palanque eleitoral, usando a mídia para se manterem vivos na memória dos seus eleitores. Sim, porque todos eles conhecem plenamente a situação porque estamos passando. A nossa situação é irreversível e eles sabem – a não ser que São Pedro abra as torneiras do céu e mande água com abundância.
A seca no semiárido é uma catástrofe anunciada. Todos conhecem, principalmente as autoridades que têm a obrigação de agir, que as secas são cíclicas e que vão e voltam com o passar do tempo. Ocorre que seca para os nossos políticos é um rabo cheio para que possam aparecer prometendo soluções que nunca chegam. Agora, por exemplo, dois temas de ouro para que encham a própria pança, bem como de esperanças os sertanejos da Paraíba, que são o fictício terceiro eixo da transposição do Rio São Francisco, que, partindo do Ceará, desaguaria no Rio Piancó e o tão propalado Açude do Espinho Branco, cuja construção é anunciada desde o governo de Eurico Dutra e que, requentado, foi tema nas campanhas recentes por estas bandas.
O tal terceiro eixo, segundo pesquisas realizadas junto ao Ministério da Integração, órgão que constrói a passos de tartaruga a eleitoreira transposição, nem sequer tem projeto elaborado, não passando, apenas, de mais uma promessa da presidenta Dilma Rousseff, que pode como tantas outras, morrer no nascedouro, restando somente o sonho de vermos o Coremas sempre cheio, distribuindo água pra milhares de pessoas. Quanto ao Açude do Espinho Branco, a desculpa, agora, é que o Governo Federal quebrado pela gestão desastrosa do Palácio do Planalto, não tem dinheiro para tocar a obra que foi idealizada há dezenas de anos para abastecer a cidade de Patos.
E, se vocês pensam que esses políticos estão preocupados, se enganam. No íntimo eles torcem para que nada seja feito, pois assim ocorrendo, eles podem formar outras caravanas e voltarem sempre que a chuva escasseie, com o mesmo lengalenga, tentando mostrar aos eleitores um trabalho que não lhes pertence e que torcem para que nunca seja realizado.
O que os nossos ilustres e desocupados deputados deviam fazer, era apresentar projetos no âmbito do Estado, área propícia para o seu trabalho. Os da nossa Região deveriam isto sim, fazer uma “radiografia” do que necessitamos. Solicitar uma adutora de vergonha que nos traga a água de Coremas sem as interrupções constantes de agora; deveriam lutar pela melhoria na saúde, dando ao Hospital Regional condições reais no atendimento aos doentes que o procuram; deveriam lutar, junto à Prefeitura, para que os chamados Postos Médicos funcionem conforme determinação do Ministério da Saúde, denunciando na Assembleia se preciso fosse, e nunca se engajarem num projeto vazio, oco, de “fotografar” o que já sabem e até vivenciam e o que é pior, têm consciência, de antemão, que estão apenas jogando conversa fora.
O fato é que a passagem dos ilustres parlamentares estaduais pela nossa Câmara, nada acrescentou e nada trará de proveitoso para o nosso povo em matéria de abastecimento d’água. Se benefício houver, este será apenas de ordem pessoal, ou seja, se apresentarem aos eleitores como políticos preocupados com os problemas do povo. Ocorre que os tempos estão mudando e o eleitor está deixando de ser idiota em acreditar em promessas e atitudes sem propósitos, como esta da chamada Frente Parlamentar da água, que, como a anterior promovida por Ricardo Marcelo, dará com os burros n’água.
Comentário do programa – Estas comissões são inventadas para os deputados fazerem turismo às custas da Assembleia, enquanto tentam captar votos. Não levam a nada. Comissão é um meio de prometer sem, no fim, fazer nada. É uma confissão de impotência e incompetência. O problema existe. Quem não o conhece é porque não conhece o Estado. O de que se precisa é de brigar pelas soluções. O palco é o plenário da Assembleia. (LGLM)