(José Augusto Longo, no Patos Online)
“Numa região notadamente marcada pelas graves consequências de longas estiagens, é ético, é cristão, é humano, promover festas com o dinheiro público? É justo direcionar somas elevadas de dinheiro para gastar com propagandas, palcos, bandas e cantores, quando o povo sofre com o drama da seca?
Neste contexto clamoroso, angustiante, a vida humana deve ter primazia, e não festas com seus gastos exorbitantes”.
Estas palavras, acima enfocadas, foram escritas pelo Padre Djacy Brasileiro, em sua coluna aqui mesmo no PatosOnline.
Há anos preocupado com a situação por que passam os sertanejos, o Padre Djacy tem se transformado na voz mais autorizada em defesa dos seus irmãos que amargam, sistematicamente, os efeitos das estiagens que, há anos, vem castigando a nossa região. Destemidamente, o sacerdote desafia autoridades em qualquer nível a tomarem providências no que tange ao mal maior que nos assola, que é a falta d’água. Desafia os poderosos, peita políticos e não tem se calado quando o assunto é acudir a quem tem sede, não somente criticando, mas, também, apontando soluções. Em sua última aparição online, ele denuncia gestores que, ao passo em que decretam “estado de calamidade pública”, anunciam a gastança de rios de dinheiro na promoção de festas juninas, com a contratação de bandas caríssimas e chama a todos para uma importante reflexão, quando pergunta:
– “É ético, é humano, é cristão, gastar rios de dinheiro público com festas”?
Quanto a tais perguntas todos os gestores festeiros tem a resposta na ponta da língua: “
– “Ora, promovemos festas para satisfazer, sobretudo, à juventude”.
Bela resposta, apenas ela não traduz a realidade que vivenciamos.
Que o jovem precisa de divertimento isso ninguém desconhece, como também não desconhecemos que as prefeituras não têm o poder de resolver, sozinhas, o problema da estiagem. Claro que não. A construção de grandes açudes ou barragens; a transposição das águas do São Francisco, a integração de bacias, a edificação de poderosas adutoras, estas estão a cargo do Governo Federal. No entanto, quando o Brasil passa pela pior crise das últimas décadas; crises de gestão, onde as torneiras oficiais foram fechadas por falta absoluta de recursos, recursos estes que, em grande parte, foram parar em bancos estrangeiros, fruto da corrupção desenfreada, não é justo que o dinheiro que se alega faltar para medicamentos e para os mais comezinhos serviços que são alvo do reclamo popular, seja gasto com bandas caríssimas, com palcos deslumbrantes, com enfeites que duram, se muito, uma semana, somente para que os que foram eleitos para trabalhar pelo povo, mostrem aos olhos dos possíveis visitantes, que a gestão anda tão bem, que sobra grana para gratificar os Zezés & Lucianos da vida, que, em poucos minutos rasparão o fundo do cofre sob os aplausos de uma juventude alienada e de “filhos de papai” que vêm de fora para se esbaldarem, embriagados pelos ritmos que entendem ser um lenitivo para a alma, enquanto o corpo sofrerá, horas mais tarde, quando a cal passada às pressas nos meio fios para melhorar a aparência da cidade comecem a amarelar e, depois da ressaca, tudo volte à calamidade de antes, com farmácias básicas vazias, postes sem lâmpadas, esgotos fétidos à céu aberto, lixões ardendo sob o fogo que transmite uma fumaça que agride, sítios sem carros pipa, periferia entregue às moscas que se confundem com os mosquitos que emanam das águas estagnadas pela falta dos canais prometidos ou mal construídos, estudantes sofrendo pela falta de um transporte adequado.
E o Padre Djacy chama a atenção para a ética que deve nortear todos os administradores públicos. E de fato, não é ético torrar o erário somente para satisfazer o ego de quem gera a coisa pública. Claro que é mais difícil dar uma resposta à sociedade revelando a impossibilidade de realizar determinadas despesas fúteis que muito bem poderiam ser evitadas. É bem mais fácil mascarar uma realidade que salta aos olhos, realizando festas suntuosas, aproveitando tais eventos para colher frutos pessoais em termos de popularidade. É verdade, também, que em determinadas ocasiões, dependendo do desgaste proporcionado pela falta de planejamento de ações administrativas, nem as festas suntuosas evitam as vaias, os apupos, como já vimos acontecer aqui e alhures.
O Governo Federal, bem como o estadual, já decretaram que não irão gastar dinheiro com festas. Por que então os municípios não fazem o mesmo? E aí voltamos às sugestões do padre Djacy: por que então, ao invés dos cantores e bandas de milhões, não se promover um São João com a nossa matéria prima? Aqui em Patos, por exemplo – peço perdão, de joelhos, pela sugestão – por que não homenagear o nosso grande Pinto do Acordeon com artistas da terra, sanfoneiros e bandas paridas nestas bandas e que deram origem aos festejos juninos tão cantados e difundidos mundo a fora por Luiz Gonzaga e o próprio Pinto? Ou será que foram Vitor e Léo, que inventaram o baião?
“Ah!” – dirão os queimadores da pólvora alheia – se for desta forma os jovens não irão, por isso fazemos o sacrifício.
E por que então não fazem o tal sacrifício com as próprias economias – não são todos, é claro – vendendo uma parte das boiadas ou uma propriedadezinha destas adquiridas não faz muito tempo, promovendo as festas com o dinheiro “economizado” durante os mandatos já exercidos? Prestar continências com o chapéu alheio é fácil.
Aqui não faço alusão a quem quer que seja, em particular. Mas, há quem diga e até a Justiça já comprovou em alguns casos, que tem gestores que aproveitam a promoção de festas para superfaturar despesas mancomunados com empresários de artistas para, assim, engordarem suas contas bancárias.
Mas, o padre ainda não falou de roubo. Falou de ética, muito embora não seja lá muito ético roubar o dinheiro do povo, convenhamos.
Que os nossos prefeitos acordem para a realidade atual. Se há dinheiro para bancar festas, por que então se decretou “estado de calamidade pública”?
Parece-me, com o perdão da expressão, ser isso uma grande incoerência.
Comentário do programa – E quem foi que disse, Zé Augusto, que nossos políticos estão preocupados com ética e com coerência? A maioria quer é se arrumar, quer garantir os empregos e os mandatos dos seus parentes e que se danem ética e coerência! Por trás de cada contrato com um grande nome da música estão muitos interesses: a comissão de quem intermedia, um preço mais camarada para um show promovido por alguém próximo ao prefeito ou para o próprio, casa cheia para quem vende camarotes e assim por diante. (LGLM)