Ilustres esquecidos (*)

By | 13/06/2015 7:52 pm

 

(Publicado no Patos Online)

Você sabe quem foi Maria Esther Fernandes? Seus ex-alunos, todos com mais de sessenta anos devem se lembrar dela. Talvez algum macróbio, com mais de oitenta anos, tenha sido eleitor dela. Filha de Sebastião Fernandes, casado com uma irmã de Ernani Sátyro, Maria Esther Fernandes foi a primeira vereadora de Patos eleita em 1955, com 271 votos. Depois, juntamente com a também professora Lourdes Ramos, fundou o Colégio Dom Mata, que funcionou por vários aos na rua Deodoro da Fonseca e por onde passaram muitos dos doutores de Patos. Agora a pergunta? Que homenagens Patos prestou a Maria Esther Fernandes, que era irmã de Dr. Flávio Sátyro Fernandes, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado União. Ela foi nossa primeira vereadora e importante educadora.

Quem foi Adalgisa Farias ou para milhares de alunos que passaram pelo Grupo Escolar e depois Escola Estadual Coriolano de Medeiros, simplesmente, dona Lidinha? Era o terror dos estudantes, mas vibrou até o fim da vida com as centenas de doutores que passaram pelos bancos escolares e a quem ela apoiou de todas as formas possíveis, enquanto estiveram sob sua direção educacional. Apesar de oriunda da cidade de Piancó, ele viveu e morreu bebendo a água do Jatobá e se orgulhava do papel que exercia como educadora na cidade de Patos. Frequentei o Coriolano nos anos de 1953 (primeiro ano de funcionamento da escola inaugurada em fins de 1952) e 1954. Ali fiz o primeiro e segundo ano primário. Mas o ensino, sob a vigilância de dona Lidinha, era tão bom que ao chegar ao Seminário de Cajazeiras, fui aprovado para frequentar o quarto ano primário, pulando o terceiro. Ela era dura como diretora, mas sabia fazer um gesto carinhoso ou dirigir uma palavra de conforto a um aluno em dificuldades (e quem não as tinha numa região pobre da cidade). Que homenagens prestou Patos a esta grande educadora, filha de Patos pelo coração?

Marlene Cesar foi uma das primeiras diretoras do Colégio Vera Cruz, escola mantida pela Fundação Duarte Dantas, fundada por Mons. Vieira e familiares, para oferecer um ensino de qualidade cobrando uma mensalidade acessível a uma zona carente da cidade. Marlene tinha a sensibilidade para as dificuldades por que passava cada um dos seus alunos. Apoiava-os de todas as maneiras possíveis e conseguia uma bolsa de estudos para aqueles que ficassem sem condições de pagar para prosseguir nos seus estudos. Depois, por conta de sua preocupação e dedicação para com a educação, o grande prefeito Edmilson Motta a nomeou como Secretária de Educação do Município, onde desenvolveu um trabalho de apoio aos sofridos professores e funcionários das escolas municipais. Foi professora em escolas do Estado e em vários estabelecimentos locais, inclusive faculdades. Era uma pessoa simples que podia ser abordada em qualquer rua da cidade de Patos. Que homenagens prestou Patos a esta grande educadora?

Dona Elvina Caetano foi outra figura importante da história de Patos. Política das mais ativas nas hostes do antigo PSD, dava votação segura a qualquer candidato a deputado estadual ou federal a que apoiasse e em 1963 foi eleita vereadora em Patos com 534 votos. De família tradicional, rica para os padrões da época, era conhecida benfeitora das pessoas carentes da periferia da cidade. Que homenagem prestou Patos a esta grande figura política da cidade?

Descendentes de Manduri, talvez figura maior do nosso folclore, prestaram-lhe homenagens em vários prédios que eles próprios construíram em nossa cidade, mas fora isso, que homenagens prestou Patos a esta grande figura que esnobava os ricos e poderosos da cidade, com a sua veia satírica?

Quem foi Tranca-ruas? Outra figura folclórica, de veia poética e satírica, que alegrava e fazia rir com as suas respostas dadas de bate-pronto. Teria morrido esquecido em um asilo de velhos, não fora o ex-prefeito catingueirense Dão de Candu, que o acolheu e apoiou até últimos dias de vida, levando-o para Catingueira, onde não lhe deixou faltar nada. Que homenagem prestou Patos, ao seu filho Tranca-ruas, fora a presença de centenas de patoenses que foram a Catingueira levá-lo à última morada?

Quem foi Zezinho Pintor, um autodidata que deixou belíssimos quadros, participou da recuperação das pinturas da Catedral, originalmente pintadas por Luiz Lima, além de ter sido um emérito contador de histórias e fonte de respostas as mais hilárias à curiosidade ou ignorância dos curiosos que o rodeavam? Que homenagem prestou Patos a esta grande figura artística e folclórica da cidade?

Quem foi Inocêncio Oliveira? Uma figura simples que se tornou um dos maiores incentivadores do futebol em Patos, com o seu Botafogo que foi base para o futuro Esporte Clube de Patos? Investiu tudo o que adquiriu com o seu trabalho para praticamente fundar o futebol de Patos. Que homenagem prestou Patos a esta grande figura pioneira do futebol da cidade?

José Bernardino, filho de João Bernardino, um dos primeiros moradores do local, foi o verdadeiro fundador do bairro do Jatobá. Eu era menino, na década de sessenta e ia entregar mercadorias vendidas pelo Armazém do Leão em uma bodega que ele tinha na mesma rua onde depois Zé Bernardino mandou construir com recursos próprios e em terreno seu a primitiva capela de São Pedro, em pagamento de uma promessa, segundo o vereador Inácio de Gelo. Aquela parte do atual bairro era uma propriedade sua, por herança paterna, que ele loteou e que deu origem à hoje quase cidade do Jatobá. Merecia ser pelo menos nome de rua no bairro que fundou. Ou quem sabe, prefeita Francisca Motta, merecia ter seu nome na Praça Coração do Jatobá, se outro nome não lhe foi destinado, já que foi no coração dele que nasceu o futuro bairro do Jatobá? Daria até para compor: Praça José Bernardino, Coração do Jatobá.

E seria um longo enumerar de ilustres esquecidos da história de Patos, por isso paro por aqui, para que não me acusem de cometer injustiças. Na política, no futebol, nas entidades beneficentes, nos sindicatos, na área de saúde, na área da educação, nas praças de automóveis e mototáxis, no comércio, na industria, em pessoas simples da rua, sempre se encontrarão grandes vultos, que fizeram nossa história e são ilustres desconhecidos. A Câmara deveria mandar fazer uma pesquisa, sempre atualizada, e guardar como um repositório para futuras homenagens.

Infelizmente, nossos políticos, aí incluídos prefeitos e vereadores estão mais preocupados em homenagear pessoas cujas famílias possam lhe granjear votos em futuras eleições. São raras as homenagens a pessoas que fizeram a história de Patos e já começam a cair no esquecimento. Uma homenagem em um nome de rua, em um posto médico, em uma escola, em uma praça coloca aquela pessoa na memória e na história da cidade, embora a imensa maioria de nós não saiba que foi Porfírio da Costa, Capitão Ló, Cônego Bernardo, Titico Gomes, Cândido das Laranjeiras, Horácio Nóbrega, Leôncio Wanderley. Mas por que esse desconhecimento? Por que nós não cultivamos a nossa história. Poucos foram os nossos escritores que se debruçaram sobre estas figuras. Pouquíssimos livros contam a história de Patos. E fica aí uma outra ideia. Alguém já acenou com a ideia de contar em livro a história de nossas ruas. Onde está o livro? A Secretaria de Educação ou de Cultura poderiam instituir um concurso para que se escrevesse um livro com a história dos nomes que levam as ruas de Patos. Garantindo como prêmio, por exemplo uma ajuda para a pesquisa e a publicação do livro. E por que não um concurso para quem escrevesse a própria história da cidade de Patos? Por que não um concurso entre os alunos das escolas da cidade para que cada um pesquisasse e escrevesse a história do nome que leva a rua em que mora, sendo premiados os melhores trabalhos?

A Câmara tem uma excelente oportunidade de fazer algumas homenagens a estes ilustres esquecidos, já que a cidade tem, segundo se diz, mais de quatrocentas ruas sem nome. E algumas destas figuras merecem muito mais que um nome de rua, merecem monumentos na forma de escolas, postos médicos, praças, pontes, bairros que vão surgindo à medida que o tempo passa. Ao invés de dar nomes de fenômenos naturais, de pontos geográficos, de figuras estranhas à cidade, por que não homenagear a estes ilustres esquecidos que fizeram a nossa história, do mais humilde ao que se fez Governador e Ministro de Estado, este pelo menos com a promessa de homenagem no teatro que aqui se constrói. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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