(Folha neste sábado)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que a prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez é uma demonstração de que ele será o próximo alvo da Operação Lava Jato. Lula também reclamou nesta sexta-feira (19) do que chamou de inércia da presidente Dilma Rousseff para conter os danos causados pela investigação.
Ainda segundo seus interlocutores, Lula se queixa da atuação do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que teria convencido Dilma a minimizar o impacto político da Lava Jato.
Nas conversas, ele se mostra preocupado pelo fato de não ter foro privilegiado, podendo ser chamado a depor a qualquer momento.
Para petistas, os desdobramentos das investigações podem afetar o caixa do partido e por em xeque a prestação de contas da campanha da presidente.
Nesta sexta, Lula manteve sua agenda: um almoço com o ministro da Educação, Renato Janine, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, além do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita. Segundo participantes, ele exibia bom humor.
A conhecida proximidade dos executivos da Odebrecht com Lula preocupa o PT. A empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao exterior com a justificativa de tentar fomentar negócios na África e América Latina.
Em viagem à Guiné Equatorial em 2011, como representante do governo Dilma, o ex-presidente colocou entre os integrantes de sua delegação oficial o executivo Alexandrino Alencar, diretor de relações institucionais da Odebrecht, também preso nesta sexta-feira.
Lula e Alexandrino são conhecidos de longa data: no livro “Mais Louco do Bando”, Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, relata uma viagem em 2009 que Alexandrino fez a Brasília com Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração da empresa. Na época, Lula pediu ajuda à Odebrecht para o Corinthians construir seu estádio.
A tensão no mundo político também se explica por uma informação que circula desde o fim de 2014 no meio empresarial. Marcelo Odebrecht, segundo aliados, afirmou que não “cairia sozinho” caso fosse preso. A empresa sempre negou ameaças.
Petistas e integrantes do governo também reagiram contra a oposição e afirmaram que, dada a influência das duas empreiteiras e o amplo leque de relações dos executivos presos, a investigação atingirá as demais siglas, incluindo o PSDB.
Durante a campanha presidencial de 2014, segundo estes interlocutores do governo, os presidentes das duas empreiteiras fizeram chegar reservadamente ao Planalto a sua intenção de votar na oposição.