(Folha de sábado)
Em busca de conter as ameaças do PMDB de romper com o governo, a presidente Dilma Rousseff deu ao vice-presidente Michel Temer, seu articulador político, carta branca para cobrar de ministros o cumprimento de acordos de liberação de verbas de emendas parlamentares e nomeações para cargos.
Segundo a Folha apurou, Temer, que é presidente do PMDB, relatou a Dilma que um dos principais motivos das últimas derrotas do governo é que os acordos feitos por sua equipe com partidos aliados estavam demorando ou não sendo cumpridos no tempo demandado pelos parlamentares governistas.
O articulador político vem sendo pressionado por correligionários como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a deixar a função por ser alvo de “sabotagem” do PT.
Na conversa com a presidente, Temer disse que não está nos seus planos afastar-se das negociações políticas do Planalto. Nos bastidores, porém, o discurso é que o vice esperará até agosto para decidir seu futuro caso as demandas de deputados e senadores não sejam atendidas.
Em conversas com assessores, a promessa de Temer é a de ajudar Dilma a “tapar os buracos do navio, não abandoná-lo” neste momento.
Para garantir o cumprimento dos acordos com os partidos aliados, Temer fará na segunda-feira (6) reunião com a equipe econômica para fechar um cronograma de liberação de aproximadamente R$ 5 bilhões de verbas para as emendas que os parlamentares aliados apresentaram ao Orçamento da União –R$ 3 bilhões para os deputados antigos, R$ 1 bilhão para os novatos e mais R$ 1 bilhão de recursos de restos a pagar de anos anteriores.
Será cobrada ainda a nomeação de cargos já combinados mas que estão sendo represados por ministros resistentes a cumprir os acordos com os partidos.
Os casos de definição mais atrasada estão nas pastas dos petistas Arthur Chioro (Saúde) e Juca Ferreira (Cultura) e da peemedebista Kátia Abreu (Agricultura) –as três têm cerca de 30 cargos abertos.
Assessores de Temer vão dizer à equipe econômica que sai mais barato liberar os recursos das emendas do que segurá-las, evitando derrotas em votações estratégicas.
Um deles lembra que “os buracos” criados no projeto que reduz a desoneração da folha de pagamento, parte do ajuste fiscal, são muito mais elevados do que o preço de pagar verbas ao Legislativo.
A aprovação do projeto, que deve render no próximo ano cerca de R$ 10 bilhões aos cofres do governo, está atrasada. Temer quer acelerar o cumprimento dos acordos com os aliados para votá-lo no Senado antes do recesso do Congresso, na segunda quinzena de julho.
Esta é a última medida do ajuste fiscal no Congresso para reequilibrar as contas públicas. Assessores de Temer dizem que, vencida esta etapa, ele vai avaliar com a presidente se ela ainda quer manter o esquema atual de articulação política.
Dentro do Palácio do Planalto, assessores de Dilma dizem que a intenção da chefe é mantê-lo como articulador político. Afinal, há outros desafios pela frente, como desarmar bombas fiscais criadas por derrotas do governo em votações no Legislativo.
São eles a medida provisória que modifica o fator previdenciário, o projeto que estende a todas as aposentadorias o aumento real do salário mínimo e o reajuste salarial para o Judiciário.
Só este último elevaria os gastos federais em R$ 25,7 bilhões em quatro anos.
Comentário do programa – Dilma é refém do PMDB que agora encosta a presidenta na parede, na base do “ou dá ou desce”. Ou ela abre os cofres e entrega os cargos ou o partido inviabiliza definitivamente o seu governo. (LGLM)