Diminuição da maioridade penal avança na Câmara após manobra (*)

By | 04/07/2015 3:57 pm

 

(Folha de quinta-feira)

Em 24 horas, a Câmara dos Deputados reverteu a rejeição à proposta de baixar a maioridade penal e aprovou, em primeira votação, texto que reduz de 18 para 16 anos a idade para a imputação penal em casos de crimes hediondos (como estupro e sequestro), homicídio doloso (com intenção de matar) e lesão corporal seguida de morte.

O texto, que ainda precisa ser votado em segundo turno e passar por duas votações também no Senado, foi resultado de uma manobra costurada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para reverter a derrota do dia anterior.

Ele é mais brando que a proposta que foi rejeitada –porque excluiu a possibilidade de redução da maioridade para os crimes de tráfico de drogas, terrorismo, tortura e roubo qualificado (com armas de fogo, por exemplo).

Na madrugada desta quinta-feira (2), foram 323 votos a favor, 155 contrários e 2 abstenções. Por se tratar de mudança na Constituição, eram necessários ao menos 308 votos a favor para a aprovação.

Na quarta-feira (1º), os deputados rejeitaram a aprovação da proposta por 303 votos a favor e 184 contrários –ou seja, faltaram cinco votos para que ela avançasse.

A nova emenda aprovada pelos deputados foi fruto de um acordo entre líderes partidários favoráveis à redução da maioridade penal, capitaneados pelo PMDB, mas assinado por PSDB, PSC, PHS e PSD.

A manobra de votar um texto semelhante ao que havia sido rejeitado horas antes foi chamada de “golpe” por parlamentares contrários à redução da maioridade.

Alguns entenderam que ela fere as regras da Casa. “Ele está criando uma nova interpretação do regimento que nunca existiu, que torna o processo legislativo absolutamente frágil e que será interminável”, afirmou o deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

Esses parlamentares, parte dos quais ligados ao governo Dilma Rousseff, argumentam que a emenda não poderia ser apresentada agora porque não tem suporte nos destaques apresentados durante a discussão da matéria, na noite de terça (30). Eles prometem ir ao Supremo Tribunal Federal contra a medida.

Ao final da sessão, Cunha rebateu as críticas feitas ao processo de votação. “Não há o que contestar. Ninguém aqui é maluco. […] Estamos absolutamente tranquilos com a decisão tomada. Só cumprimos o regimento e eu duvido que alguém tenha condições de contestar tecnicamente uma vírgula do que eu estou falando”, disse.

A líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ), disse que pode ser criado um “precedente perigoso”. “Se hoje serve a alguns, amanhã servirá a outros. Ganhar no tapetão não serve a ninguém”, afirmou.

O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), argumentou que o “caminho” escolhido era “legítimo”. “PECs não votadas podem ter partes de seu texto aglutinadas em um texto de consenso”, disse.

Durante a sessão, o PT e deputados contrários à redução apresentaram o chamado “kit-obstrução”: requerimentos de adiamento da votação ou de retirada de pauta do projeto que têm como objetivo postergar a votação.

Após a comemoração de movimentos contrários à redução da idade penal na galeria do plenário na madrugada de quarta, Cunha proibiu a entrada do público para acompanhar a nova sessão.

Comentário do programaDepois de derrotados em uma primeira votação, defensores da redução da maioridade penal, reagiram passando um pouco de “vaselina” na proposta que terminou sendo aceita.  Não sei se o projeto recusado era melhor ou pior do que o que foi aprovado, mas a opinião da maioria da população manifestada através de pesquisas confiáveis é a favor da redução da maioridade penal. O sentimento geral é de que alguma coisa tem que ser feita para diminuir o índice de violência que assola o pais e a presença dentro dela de milhares de crianças, jovens e adolescentes. Se outros países mais evoluídos mandam para cadeia crianças com pouco mais de dez anos, alguma razão eles têm para isso. Claro que a realidade deles é bem diferente da nossa, mas será que vamos ficar inativos vendo a violência campear ao nosso lado sem que façamos nada para diminuir isso? O Ministro da Justiça diz que a aprovação da lei provocará o caos no sistema penitenciário do país. E por que não carrear para a construção de novas prisões o dinheiro que estava sendo desviado das grandes empresas estatais para o bolso dos políticos? Afinal, com tanto empresário preso vai faltar mesmo prisão neste país. Talvez uma boa ideia fosse cobrar uma diária alta nestas prisões para que os pagadores e recebedores de propinas financiassem indiretamente a construção de novas prisões. Outra ideia seria utilizar parte do dinheiro eventualmente recuperado nestes processos na construção de novos presídios. (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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