Projeto insalubre

By | 04/07/2015 3:58 pm

 

(Laerte Cerqueira, colunista do Jornal da Paraíba)

O deputado federal Hugo Motta (PMDB) tem uma tarefa difícil na CPI da Petrobras. Dar o resultado que a sociedade e a opinião púbica esperam e, ao mesmo tempo, agradar o seu padrinho, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que é investigado na Lava Jato. Por enquanto, suas ações não se chocaram fortemente com os interesses de Cunha, mas no primeiro sinal, ou recua ou terá que enfrentar o “homem”. Aposte na primeira opção.
Mas é outra fama que pode manchar a imagem dele com o eleitorado e admiradores: a fama de “deputado insalubre”. É que o parlamentar paraibano apresentou um projeto na Câmara que tem um escancarado objetivo de beneficiar grandes empresários e tirar garantias e “migalhas” de quem já ganha um sofrível salário mínimo. A matéria prevê alteração na CLT para acabar com o adicional de insalubridade dos trabalhadores da limpeza de áreas coletivas e/ou internas, como bares, bancos, hotéis, restaurantes. Ou seja, somente aqueles que trabalham com coleta de lixo urbano e com higienização e coleta de lixo em instalações sanitárias de locais públicos de uso comum do povo, continuariam com o benefício da insalubridade – que pode ser no grau baixo, médio ou alto.
O entendimento do Tribunal Superior Trabalho, no entanto, é diferente. Num das últimas decisões deixou claro que “limpar banheiros e recolher lixo sanitário de lugares onde há grande circulação de pessoas dá ao trabalhador o direito de receber adicional de insalubridade ao salário em grau máximo. Ou seja, 40% de um salário mínimo ou R$ 289, de acordo com o mínimo vigente”, diz TST. O benefício deve ser concedido por causa do contato diário do trabalhador com agentes nocivos, transmissores de doenças de pele, respiratórias, ou com complicações trazidas por produtos químicos. Vale ressaltar que o uso de equipamentos de segurança, como luvas, não excluem a obrigação do empregador de pagar o adicional.
Está na cara que o deputado recebe pressão do empresariado que ganha (economizando ou lucrando) com a mudança. A iniciativa teria partido de entidades que representam hotéis, restaurantes, bares e similares, que alegam que o item traz uma insegurança jurídica ao patrão. Hugo faz média para, no tempo certo, cobrar a retribuição. Mas, ao ser o “pai” de um projeto como esse, que prejudica tanta gente pequena, que já ganha pouco para a dureza do trabalho, pode estar dando um tiro no pé. Ou melhor, vai colocar a mão num balde insalubre.

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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