Nos meus tempos de rua dos Dezoito (2)

By | 11/07/2015 4:33 pm

(Publicado no Patos Online)

Em artigo anterior antecipei que ia cometer injustiças e deixar muita gente fora da minha relação de moradores da rua dos Dezoito. Não deu outra. Alguns ouvintes e internautas fizeram reparos na minha relação e com toda razão. Um destes internautas, com quem me encontrei pessoalmente, me fez uma relação de pessoas que moravam na rua dos Dezoito, na mesma época que ele e eu, e que não haviam sido citadas. E mandou sua relação através de e-mail. Um dos nomes que eu não citei era o dele próprio. Por sinal, um nome que eu não podia esquecer. Foi meu colega de seminário e depois colega no Banco do Brasil e continua amigo até hoje: José Alves Campos, Zé de Maroca. Na relação que ele me enviou uns nomes já tinham sido citados anteriormente, mas há outros que foram realmente omitidos. Um dos motivos para a nossa divergência com relação a estes nomes tem como causa a distância entre a minha casa e a dele. Ele morava no começo da rua dos Dezoito, no lado direito da rua, próximo à bodega de Antônio Davi que antes pertencera a seu tio Vicente Campos. Eu morava no lado esquerdo já próximo à bodega de Manoel Doca. Por isso a gente se fixava nos moradores mais próximos. Outro motivo para a divergência talvez sejam os períodos em que moramos na rua. Como ele é um pouco mais velho do que eu, talvez tenha conhecido moradores que já não estavam ali no período em que morei, de quando me entendi de gente até 1958.

Segundo Campos, seu tio Vicente Campos morava vizinho à sua bodega, casa em também teria morado uma senhora de nome Andressa que seria a mãe de Severino Lustosa, cujo pai era Juvino Lustosa. Eu me lembro de Juvino, que era amigo de meu pai, mas não me lembro de onde morava. Vizinho a casa de Vicente ficava a oficina de sapateiro de Pedro Leitão.  Por ali morava, segundo Campos, um José Silva, em cuja casa mataram um carregador dágua chamado Arara. Lembra que Luzia de Pedro Leitão era filha de João Ferreira (e de dona Jesus de quem me lembro bem). Lembra de “seu” Amâncio, pai de Chaguinha, e de Zé Vieira que depois se mudou para a rua do Prado e foi apontado como o assassino de Mascarenhas, funcionário do Banco Industrial. Esse Mascarenhas ou Francisco Mascarenhas foi homenageado depois com o nome da Fundação que mantém as Faculdades Integradas de Patos (FIP).  Campos cita depois o dentista Manoel Henrique (que foi assassinado em seu consultório na atual Praça da Pelota), além de Zé Gerônimo e Dona Marina Parteira, citados por mim em artigo anterior.           Depois destes morava dona Maroca, que foi casada com Manoel Campos, e era mãe de Zé Campos, Diá, Josa, Neta e outros mais. Segundo Campos, sua mãe organizava “dramas” com os meninos e meninas da vizinhança. Cita a seguir algumas pessoas já citadas por nós como Joaquim Dedé e dona Nita, pais de Tião, Marcos e outros. Não sei “por que cargas dáguas” chamávamos Marcos, que voltou a morar atualmente na mesma casa em companhia de uma irmã, de Marcos Macaco, talvez só pela semelhança do nome, pois não era tão feio assim. Outro morador da rua dos Dezoito de que não podia ter me esquecido era de Pedro Virgínio de Araújo (“seu” Pedro do Leão) que depois foi meu colega de trabalho no Armazém do Leão. Campos lembrou de dona Quitéria Costa (casada com Antônio Costa) e mãe de Inaldo e Eunice Costa, depois colega minha como professora do Colégio Diocesano. Lembrou também de Cleonice, filha de Joaquim Leôncio, este citado por mim no artigo anterior. Lembrou também de Oscar Leandro, só que Oscar morou no Dezoito ainda solteiro em casa de Elias Leandro e dona Sebastiana pais dele, de Ernani, Nelson, de Nina (casada com Apolônio Gonçalves), de Maria José (casada com Louro Leandro, pais de Duíca) e de Orlando (que era marinheiro e que diziam ser comunista) e que hoje curte a merecida aposentadoria, morando na rua Peregrino de Araújo. Lembra Zé Preto com a sua gostosa bolacha preta, e outra figura que escapou da minha lista, Zé Rodrigues do Armazém Simpatia que depois que enricou foi morar na frente do Colégio Cristo Rei. Daquele lado direito da rua tanto eu como Campos esquecemos de Inocêncio Oliveira, espécie de fundador do futebol de Patos. Quem me lembrou de Inocêncio e de Marrocos, este morador do lado esquerdo, foi Maria José de Virgílio Trindade, que ali se radicou depois de casada e nunca mais saiu da rua.

Descendo pelo lado esquerdo da rua, Campos lembra da fábrica de doce e da casa de Pedro Henrique, pai de Pedrina, que foi secretária da Paróquia de Nossa Senhora da Guia até um ano desses, e de Dindim. Ainda hoje o cheiro de doce de goiaba me lembra da doceira de “seu” Pedro Henrique. Campos lembra de “seu” Delfino que era pedreiro, de “seu” Bata de Zé da Guia que dirigia o caminhão da carne. Lembra de Nenem Macarrão, figura de destaque da rua. Dona Severina, mãe de Vigolvino que foi vereador umas duas vezes, carregava a cruz nas procissões e foi dos “enfrentantes” da Procissão de Senhor Morto. Esqueceu de dona Severina Verdadeiro, Inácio Souto e dona Alzira Verdadeiro. Falou em Chico Barbeiro, pai de Perequeté e Nego Passo. Aí cometeu dois enganos, apesar de barbeiro o nome dele era “seu” Chico Daniel, pai de Nego Passo, Terezinha, Zélia, Nena e Estácio. O grande Perequeté era filho de Abel (pãozeiro de seu Adauto) e Raimunda que moravam, salvo engano, na Porfírio da Costa ou na Felipe Camarão. Vizinho a Manoel Bernardino, mas já na rua do Nego, morava seu João Trindade, pai de Catê, de Jáder, Zamba e de Jaime que jogaram nos clubes de Patos. Catê aposentou-se no Banco do Nordeste. Lembra que além de Severino Caiqueiro (e Joquinha que jogou no Esporte), Antônio Justino também era pai de Socorro que casou com Aragão, nosso colega no Banco do Brasil. Lembra ainda outra figura que escapou da minha lista: o pastor Cesário Conserva, pai de Misael e de Madiel, que fazia cocadas de leite e de coco. Eu esqueci no meu artigo, e Campos esqueceu de relacionar, Assis e Hermínio Ramos (filhos de seu Titico Alfaiate), que moravam na rua dos Dezoito e que foram nossos colegas no Seminário de Cajazeiras. E também de Oderban que morou lá e também esteve conosco no Seminário.

Além de Campos, quem me forneceu subsídios valiosos para esta enumeração foi Edna Medeiros (a Dinha, filha de Otoni)

A rua dos Dezoito teve suas figuras de destaque naquela época. Nenen Macarrão, beata e zeladora do Apostolado da Oração, não tolerava desaforos, principalmente de Nicinha e Vitalina, em brigas que chamavam atenção na Matriz. Cada uma que quisesse ser mais devota. Nenen tinha um irmão que era general da Polícia Militar do Pará, numa época em que as polícias militares tinham até general. Quando passava suas férias na casa dos pais, na rua dos Dezoito, o General desfilava pela rua com farda de gala e juntava menino na rua para vê-lo, fazendo tanto sucesso quanto os desfiles da Banda de Música. Zé Preto era famoso por suas bolachas pretas, as melhores do mundo. Os meninos vizinhos iam “aventurar” comer as sobras e bolachas mal cortadas. Zé Preto demorava muito para aumentar o preço das bolachas, apesar da inflação da época. Para não espantar os fregueses ele ia diminuindo o tamanho da forma das bolachas até “não dar mais para segurar”, quando aumentava o preço da bolacha e voltava a usar a forma maior. Fátima minha irmã, quando morava em São Paulo, levava pacotes e mais pacotes da sua bolacha preta, para lembrar os tempos de menina. Antônio de Vina, que morou vizinho à casa de Virgílio Trindade, era um doido manso, que não perdia velórios nem enterros. No enterro fazia questão de levar a cruz, e num destes enterros, acuado por um cachorro, defendeu-se com a cruz, gritando “sai prá lá, senão meto-lhe o diabo”. Outras figuras frequentavam a rua, como Antônio Tranca-Rua, que tinha parentes da família Garapa na rua. Quando “bom”, era pacato e respeitava todo mundo. Quando enchia a cara, metia-se a brabo, dizia nomes e ameaçava homens, mulheres e crianças. Depois virou figura folclórica. Outra figura era um Dr. Pedro, que não sei se era Pedro Peregrino ou Pedro Firmino. Andava muito bem trajado, com uma bengala na mão e sem dar muita confiança a ninguém. Mas passava a mão na cabeça das crianças, que apesar disso tinham medo dele, talvez por causa da bengala.

Das figuras aqui citadas no artigo publicado em 06/06/2015, duas se foram nos últimos trinta dias: Maria José Vieira (Maria José Preta), viúva de Chico Preto, mãe de Trial, Mariano, Chicola, Tininho, (todos já falecidos), Conceição e Lúcia, faleceu em 26/06/15; Otoni Medeiros, casado com dona Joaninha e pai de Edival, Edna (Dinha), Edleusa (Léca), Edivaldo, Fátima e Eloá (Ló), faleceu no dia 03 de julho.  Maria José tinha 91 anos, Otoni ia fazê-los em 06 de setembro. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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