(José Augusto Longo, no Patos Online)
Não sei bem se, pela conturbação na política brasileira, pela desonestidade dos políticos de hoje, pela imprensa que não empolga ou pelo nível do nosso futebol, sonhei, noite dessas, com três figuras das mais expressivas de nossa sociedade, que, cada um em seu setor de atuação, para mim, pelo menos, deixaram uma lacuna que parece, está difícil de ser preenchida. Das três, apenas uma e – graças a Deus -, ainda está entre nós e, por onde anda, esparrama dignidade e experiências, que deveriam ser seguidas. Trata-se de Olavo Nóbrega de Sousa, médico dos mais conceituados, que, depois dos oitenta anos, ainda acode seus velhos clientes, e político aposentado que escreveu em Patos uma história que, depois dele, infelizmente, poucos quiseram ler, para aprender como se trata o erário, como se administra com seriedade, como se pode ser honesto no trato da coisa pública.
O doutor Olavo foi prefeito de Patos, deixou obras importantes, como, por exemplo, a Rodoviária, hoje transformada pela administração atual em proveitoso ponto de apoio para os transportes coletivos.
Depois da prefeitura, exerceu outros cargos importantes, tais como o de Superintendente do antigo INPS e Delegado do Ministério da Saúde, ambos com sede em João Pessoa, neles empregando a mesma austeridade administrativa que demonstrou quando geriu os destinos desta cidade. Depois tentou chegar à Câmara Federal e ao Senado da República, no entanto, talvez por não ser dado aos conchavos que a política traz em seu bojo, mesmo sendo relativamente bem votado em tais pleitos, não chegou a ser eleito.
Para a política, entrou rico, dono de avião e, diferentemente dos que “entram puxando uma cachorra e saem tangendo uma boiada”, saiu, apenas, com o seu bendito e glorioso diploma de médico e com a coragem de seguir em frente, de cabeça erguida, olhando nos olhos dos eleitores, sem se envergonhar de ter deles recebido o voto.
É, ainda hoje, entre nós, um monumento vivo à honestidade.
E aí, não sei por que cargas d’água, misturei no sonho o atacante Totinha e o repórter Dedé Santana, para os desportistas que os conheceram, dois expoentes, cada um em sua atividade.
Eu acho que Totinha entrou no meu sonho, pela decepção que o Vasco vem me proporcionando, além de, muitas vezes, ficar a pensar acordado, é claro, como tem gente roubando os nossos grandes clubes, a nossa própria seleção, enganando a torcida, fingindo jogar um futebol que sabem o suficiente, apenas, para assinar milionários contratos. Ou os que, jogando na Europa ou em outros continentes se esmeram, chegando, quando convocados, com visível má vontade para jogar pela nossa seleção, nos decepcionando nos vários torneios que disputam.
Quando assisto pela televisão times mal arrumados, atacantes perdendo gols na cara do goleiro, estádios esvaziados, eu tendo que voltar no tempo e, sem querer ir mais longe, lembrar do nosso próprio futebol, das glórias que Esporte e Nacional nos proporcionavam, das alegrias que Alvi-rubro e Canário davam aos seus torcedores, nas tardes de Zé Cavalcante colorido de bandeiras e cheio.
Aí não dá outra: vem-nos à lembrança os gols de Totinha, de Cloves, Mario Lemos; as jogadas magistrais de Toinho, Teomar, Grilo, Messias (que Edleuson chamava de “o pai da matéria”, as arrancadas fulminantes de Catê e Broxó, dos goleiros Zé Pereira, Celimarcos e Minininho, dentre tantos outros craques que faziam dos nossos dois representantes, times de respeito, que davam medo a quem quer que ousasse enfrenta-los, assim como a paixão dos seus torcedores.
Mas, como o nosso futebol morreu e talvez nem ressuscite com o vigor de antes, vem Dedé Santana povoar meu sonho, certamente pela imensa saudade que sinto do querido e competente companheiro de tantas jornadas. No meu sonho Dedé reclamava de mim, por não estar fazendo o que fazia antes, e eu retrucava que, sem o velho e bom Gago, sem Nestor, sem Aloisio e sem Virgílio, ficaria muito difícil desempenhar as funções das quais fui forçado a me aposentar.
Ao futebol radiofônico de Patos, na verdade, apenas Edleuson e Dedé fazem a falta maior. Talvez, quem sabe, alguns guardem na lembrança as nossas atuações de décadas, nas emissoras locais, mas, ao futebol propriamente dito, a lacuna maior foi aberta com a morte dos dois. Em todas as resenhas esportivas, haviam debates acalorados todos os dias entre Dedé e Edleuson, cada um torcendo mais pelas cores que defendiam. Edleuson, Esporte de morrer; Dedé, quem sabe, o maior torcedor do Naça, ao lado de Romero Nóbrega, de Bastinho e de Acir, a lavadeira espontânea dos uniformes do clube.
E eu tenho a mais absoluta certeza que, fossem ainda vivos Edleuson e Dedé, os nossos dois clubes não estariam passando pela vergonhosa situação por que hoje passam. Estivessem os dois ainda entre nós, Esporte e Nacional não teriam chegado ao ponto vexatório em que chegaram, sendo obrigados a se licenciarem da Federação por falta de meios financeiros, estando ambos na condição humilhante de aspirantes à primeira divisão, sem a certeza de que lograrão êxito. Eles agitavam a torcida, inflamavam o público, denunciavam diretores oportunistas, exigiam dos jogadores empenhos; suas resenhas eram as mais ouvidas e respeitadas por todos aqueles que faziam o nosso futebol.
Mas, infelizmente, tudo passa na vida e eles também passaram e com eles a alegria de vê-los se desdobrando para que o nosso futebol fosse sempre vitorioso.
É claro, que temos por aí surgindo uma nova safra de políticos, de cronistas esportivos e de jogadores de futebol. Mas, parece, que está meio difícil se descobrir alguém que, pelo menos venha a se parecer com as três ilustres personalidades, que povoaram meu sonho.
Torçamos para que eu esteja enganado.