Retrato do Brasil

By | 15/08/2015 8:17 pm

(Editorial da Folha na quinta-feira)

Apresentado como “Agenda Brasil”, o pacote de reformas proposto ao governo federal pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) sintetiza, em muitos aspectos, as circunstâncias que hoje sacodem o país –e não somente pelo conteúdo, mas também por sua origem e pelas reações que suscitou.

Num primeiro plano, a própria sugestão das medidas denuncia a extrema fragilidade do Planalto. Dado um quadro de crise política e econômica, o habitual, em um sistema presidencialista, seria que o Executivo liderasse iniciativas com vistas a promover o crescimento.

A presidente Dilma Rousseff (PT), porém, mostra-se incapaz de fazê-lo. O presidente do Senado, até há pouco fonte adicional de incômodos para a administração petista, decide tomar a dianteira. Não “estendendo a mão a um governo que é efêmero e falível”, diz Renan, mas oferecendo “um ponto de partida para discutir o Brasil”.

Ninguém há de tomar pelo valor de face as declarações de um político ladino como Renan; seus motivos subjetivos talvez venham a emergir com o tempo. O dado objetivo, de todo modo, é que o pacote do Senado revela, por parte dessa Casa, algum senso de responsabilidade com o país.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou o golpe e sentiu necessidade de defender seu lado da cerca: “Não se pode achar que vai construir uma agenda única, que vai ser votada e virar lei. Não é assim que funciona. Não se pode ignorar que há outra Casa legislativa”.

Dificilmente alguém terá se esquecido disso, já que dessa “outra Casa legislativa” partem as principais ações destinadas a desestabilizar ainda mais o governo Dilma –mesmo que isso signifique aprovar leis desastrosas para as contas públicas, presentes e futuras.

Cunha, como se sabe, declarou guerra contra o Planalto, e inúmeros deputados estão do seu lado. Há nisso muito do velho oportunismo parlamentar: trocam-se votos no plenário por cargos e verbas.

Mas há também algo novo: a tentativa de desviar as atenções da Operação Lava Jato, cujas investigações sobre corrupção na Petrobras não têm preservado os políticos.

Cunha tem certa razão quando afirma que a agenda de Renan por ora não passa de “jogo de espuma”. Poucas propostas parecem viáveis, e quase todas demandarão muito debate. Ainda assim, o conjunto tem o mérito de, retomando as boas relações entre o Executivo e o Legislativo, colocar em pauta temas importantes para o país.

Concordando ou não com as medidas, Dilma Rousseff não estava em condições de rejeitá-las. Que ela assim se afaste ainda mais de seu programa, agravando o estelionato eleitoral, é apenas mais um aspecto dessa sintética “Agenda Brasil”.

Comentário

Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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