(Folha neste domingo)
Prestes a deixar o comando da articulação política, Michel Temer (PMDB-SP) caminha para se consolidar como alternativa de poder ao governo, avalia seu partido, o PMDB.
Para alguns dos integrantes da legenda, o vice-presidente é o beneficiário direto da crise tanto na hipótese de uma interrupção do mandato de Dilma Rousseff, quanto na possibilidade de a petista seguir no cargo fragilizada até 2018, o que aumentaria a influência interna de Temer no papel de fiador político.
A única saída que não inclui o peemedebista está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que analisa pedido da oposição para anular as eleições do ano passado. Um desfecho assim excluiria a ambos.
Dilma respirou melhor nos últimos dias graças ao apoio de empresários contrários à tese do impeachment e à recuperação do diálogo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
As investidas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a favor de projetos com forte impacto fiscal sedimentaram entre os chamados barões do PIB (Produto Interno Bruto) o temor de que a guerra política exaurisse as chances de recuperação econômica no médio prazo.
No partido, nota-se que nenhuma das reações que aliviaram a vida do governo recentemente foi costurada pelo Planalto. Passivo, o Executivo aposta na reaproximação com sua base social para se manter no poder.
De duas semanas para cá, peemedebistas começaram a medir o pulso do mercado para entender as razões do relativo suporte à manutenção do governo. Um deles ouviu a seguinte metáfora: “atuamos como uma espécie de junta médica. Enquanto acharmos que é melhor a sobrevida do paciente, manteremos os aparelhos ligados. Só desligaremos quando não houver mais jeito.”
Conforme esses relatos, Temer está mais fortalecido, mas ainda precisa mostrar ser capaz de controlar Cunha, o que ainda não ocorreu, e sinalizar que ele pode, de fato, reunificar o país, o que inclui o PT, caso a tarefa de administrar o Brasil caia no seu colo.
Dois movimentos recentes de Temer ajudam a corroborar o sentimento de que, cuidadosamente, ele se afirma como alternativa de poder. Em palestra para investidores, em julho, disse que, se fosse presidente, manteria Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Em agosto, Temer afirmou que o país precisa de “alguém [que] tenha a capacidade de reunificar a todos”.
Apesar das sinalizações, aliados afirmam que a intenção de Michel Temer sempre foi ajudar a debelar a crise.
Comentário do programa – Simples coadjuvantes nas últimas quatro eleições, quando sempre “pegaram carona” no PT, o peemedebistas vêem agora uma chance de chegar ao poder ocupando a cadeira de presidente, mesmo sem votos. Só que o TSE pode “melar” esta sua chance cassando o mandato de Dilma e Temer, o que daria ao PMDB apenas noventa dias de poder, enquanto se faria uma nova eleição. (LGLM)