Por que alguns médicos resistem aos Genéricos?

By | 13/09/2015 6:35 am

(Publicado no Patos Online)

Luiz Gonzaga Lima de Morais Júnior exerce o cargo de especialista em regulação e vigilância sanitária na ANVISA e durante vários anos trabalhou em Brasília, analisando processos de autorização para produção de medicamentos genéricos. Depois de um exame rigoroso, a ANVISA autorizava a produção e venda como genérico. Segundo Júnior, depois de conhecer os processos de registro dos genéricos, ele próprio passou a utilizar este tipo de produto sempre que o médico lhe prescreve um medicamento do qual existe o genérico. Porque, segundo ele, o genérico, por ter todo o seu processo de fabricação fiscalizado e examinado o material utilizado na fabricação para verificar a sua qualidade, o produto termina sendo mais confiável do que o remédio de marca, que passa a ser produzido no país pela fama com que vem de fora e não tem o seu processo produtivo examinado tão minuciosamente pela ANVISA.

A Dra. Fátima Lima, na época médica do Ministério da Saúde, há muito tempo havia me aconselhado, bem antes da criação dos genéricos, a dar preferência aos medicamentos distribuídos pelo Governo Federal, através dos postos médicos, justamente pela alta qualidade destes medicamentos.

Foi uma surpresa para mim, quando, ao procurar um genérico numa farmácia, a atendente me disse que estranhava meu interesse pelos genéricos, já que muita gente fugia deles, inclusive com recomendação de alguns médicos para que as pessoas comprassem o remédio que eles prescreviam, nunca os substituindo por genéricos. Conversei sobre o assunto com uma filha minha que é farmacêutica e professora universitária, além de várias atendentes de farmácia, amigas minhas em Patos e João Pessoa, e fiquei estarrecido com o que ouvi. Segundo as informações, laboratórios que vendem produtos de marca distribuem presentes e até viagens para participação em congressos nos grandes centros e até no exterior, para os médicos que prescrevem os seus produtos. Foi a explicação que ouvi. Claro que não são todos os médicos que praticam esta discriminação contra os genéricos. Conhecemos deles que, ao prescrever um medicamento, dizem logo ao paciente que existe um genérico daquele produto, quando os há.

E até aqueles remédios que mudaram a vida sexual dos idosos, Cialis e Viagra entre outros,  têm hoje os seus genéricos de qualidade. Mas cuidado com os produtos paraguaios, geralmente são similares de fama não muito boa.

Tem gente que tenta associar o baixo preço do genérico a uma qualidade inferior. Mas o baixo preço se deve ao fato de que o fabricante do genérico gasta muito pouco com publicidade, não precisa pagar caro aos seus “viajantes” para tentarem convencer os médicos a prescreverem o seu produto, não precisa dar presentes e prêmios a quem prescrever o seu medicamento.

É bom observar que nem todo remédio de marca tem o seu genérico correspondente e alguns laboratórios chegam a juntar um outro princípio ativo ao princípio ativo original, para justificar que o médico não indique o genérico daquele produto. O princípio ativo secundário serviria para mascarar o princípio ativo original, sem alterar muitas vezes o seu potencial curativo. O que você pode fazer é o que eu faço sempre que o médico me prescreve um medicamento. Perguntar se não existe um genérico do remédio prescrito. E se você esquecer de perguntar ao médico ou ele não souber informar, pergunte sempre na farmácia, se não existe um genérico do produto prescrito pelo médico, já que muitas vezes o próprio médico está desatualizado sobre o lançamento de novos genéricos. Na farmácia deve haver um livro ou programa de computador que indica quais são os genéricos de cada produto de marca. Neste caso, pode-se fazer a substituição.

Para concluir, uma última informação. Antigamente, ao remédio de marca, se opunha o chamado similar, um produto geralmente de categoria inferior, de preço baixo e que os atendentes de farmácias tentavam impingir aos clientes, dizendo “não tem este remédio de marca, mas tem este aqui que é muito bom e bem mais barato”. Ou “Tem este que custa tanto, mas tem este mais barato”. E recebiam prêmios pelos similares que vendiam. Com a criação do genérico se criou uma outra alternativa para os clientes. Tempos agora um produto muitas vezes até melhor do que o produto de marca e bem mais barato. Além do similar para quem prefira o mais barato, sem preocupação com a qualidade.

O que nós chamamos até aqui de remédio de marca é oficialmente chamado de medicamento de referência. A definição de genérico, segundo a Anvisa, é “…aquele que contém o mesmo princípio ativo, na mesma dose e forma farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a mesma posologia e indicação terapêutica do medicamento de referência.” Por exemplo, Buscopan é o medicamento de referência. Seu genérico é Butilbrometo de Escopolamina. Cataflam é o medicamento de referência, seu genérico é o Diclofenaco Potássico ou Sódico ou Resinato. O genérico de Decadrom (um medicamento de referência) é a Dexametasona.

 

(LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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