O legado marizista

By | 20/09/2015 8:27 am

 

(Gonzaga Rodrigues, colunista do Jornal da Paraíba)

Mariz consagrou-se pelas atitudes. Alicerça o seu currículo de administrador e de homem público de ideias como prefeito de Souza. Inovara em métodos, estratégias e prioridades sociais. Mas foi em atitudes ou posicionamentos que forjou a sua liderança, que passou a ser seguido e a desconhecer mandões. A decisão de disputar o governo do Estado no regime da eleição indireta, contrariando a ditadura e, em hora exacerbada, seu próprio aliado e tutor partidário, João Agripino, é prova disto. Aliou-se a esse forte perfil de liderança, o respeito à coisa pública e a retidão na vida privada.

Ora, a política não se inventou para isso. A regra é outra, a cada dia mais decepcionante, mais contrária, na prática, ao verdadeiro bem comum. Longe, muito longe do sonho democrático ou mesmo da velha utopia socialista de Proudhon, para quem a política é, sobretudo, a ciência da liberdade. Liberdade de viver dignamente sem os extremos da riqueza ou da pobreza. Sua filosofia advogava a conquista dessa dignidade com instituições burguesas que financiassem a atividade produtiva do operário, do artesão, paliativo que se tornou alvo da crítica marxista a partir do Manifesto Comunista.

Toco nisto, tantas décadas depois, por ter saído numa das nossas conversas de terraço da Santos Dumont, casa do velho Jacinto Dantas de Gois, onde Mariz morou depois de casado com Mabel. Conversas mais dele do que minha, que só fazia atiçá-lo timidamente, tirar dúvidas com quem mantinha ainda quente o fermento das ciências políticas adquirido na França.

Só por ironia ou por capricho dos deuses, a Paraíba viria assistir, alguns anos depois, à disputa radical pelo poder entre Mariz e Burity, dois doutores abeberados nas escolas da Europa. Luta que, em radicalismo, faria pouca diferença das travadas em Souza ou mesmo na capital dos Pessoa, Oliveira Lima ou Miranda Freire.

Martinho Moreira Franco está lembrando Mariz, em sua crônica de A União, com o discurso feito em protesto à cassação de Humberto. Mariz, nesse discurso, lembra Antônio, nas escadarias de Roma, anatematizando o assassínio de Cesar. Só que, nesse libelo de Mariz no Senado brasileiro, o assassino era e continua sendo a discriminação elitista da política sulista e de suas instituições contra o nordestino. A corrupção de Humberto fora a impressão de calendários de Natal na gráfica do Senado, ele presidente. Pecado venial diante do que se vê hoje e se viu sempre, lá pras brandas do Centro-Sul.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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