(Laerte Cerqueira, colunista no Jornal da Paraíba)
A leitura do relatório final da CPI da Petrobras tinha ao fundo uma música imaginária no ritmo da frustração e do desengano. A fisionomia do presidente, o deputado federal paraibano Hugo Motta (PMDB), retratava esses sentimentos. Talvez tenha sido só impressão, mas foi uma leitura comum aos observadores de plantão. A conjuntivite do relator petista, Luiz Sérgio, destacou ainda mais a decepção. Tudo bem que era madrugada, mas parecia que todos queriam botar um ponto final ali, na melancolia de uma sessão final decepcionante.
Nas entrevistas, Motta até que tentou justificar o resultado, cumpria o seu papel de defensor do seu trabalho e do grupo que comandava. Não convenceu. A CPI gastou uma fortuna com uma viagem no exterior, que praticamente não ajudou em nada. Ouviu mais de 100 pessoas, mas não avançou no que já estava sendo investigado pela PF e MPF. Não ouviu políticos, com exceção do presidente da Casa, Eduardo Cunha, que foi para lá espontaneamente mentir. Imagine! O único que foi mentiu na cara dura e desmoralizou de vez a Comissão, que foi incapaz de convocá-lo para esclarecer, reafirmar ou pedir desculpas. O resultado da investigação foi decepcionante para os integrantes e boa parte da culpa, inevitavelmente, recaiu sobre o relator e o presidente. Para piorar, foi impossível não fazer a ligação do resultado pífio com interesses de seus principais membros, que pareciam não querer “mexer” com os colegas.
Ambos também tinham relações partidárias e pessoais com políticos envolvidos. Como o próprio Hugo Motta, que sempre foi considerado um “afilhado” de Cunha, no processo de ascensão em Brasília. O paraibano foi bem no início, enfrentou o preconceito por ser jovem, com firmeza e altivez, abriu fogo contra os que não acreditavam que ele iria longe. Vai ter que admitir que não foi. Morreu na praia. De uma hora para outra, Motta entrou para o seleto grupo de parlamentares que tinha os holofotes permanentemente, com poder de decisão, de falar baixo e, mesmo assim, ser ouvido com um volume nas alturas, com público de milhares.
Agora, sem a presidência de uma CPI tão importante, tem que tomar cuidado para não descer ladeira abaixo e virar um deputado do chamado baixo clero. Sem prestígio, sem confiança e com nome ligado a uma CPI que vai ficar muito mal falada por aí. Capacidade, articulação e firmeza ele já demonstrou ter, mas a concorrência é grande e perspicaz.
Motta entrou grande, sai, talvez, menor ou igual ao momento anterior. Menor porque, apesar de ter mostrado capacidade, apresentou resultados pífios. Igual porque tem aqueles que vão respeitá-lo por ter sido o “companheiro”, por saber que onde estava, com a pressão que sofria, não poderia ir muito longe. A CPI acabou numa rodada grande de pizza, com indiciamentos redundantes, isenção de políticos e o paraibano criticado. Ele sabia que o risco disso acontecer era grande.