(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)
É cada vez mais escancarada a forma como Eduardo Cunha usa a presidência da Câmara para intimidar adversários, chantagear o governo e se blindar contra as investigações da Lava Jato.
Conhecido por manobrar o regimento a seu favor, o peemedebista já havia deixado claro que fará o possível para atrasar seu processo no Conselho de Ética. Só para numerar a representação, a Mesa da Câmara, subordinada a ele, consumiu 14 dias.
Agora Cunha mobiliza sua tropa de choque para tentar intimidar os deputados que ousam contestá-lo. O exemplo mais gritante da ofensiva é a tentativa de cassar o mandato do líder do PSOL, Chico Alencar.
O pedido foi apresentado nesta quinta pelo deputado Paulinho da Força, presidente do partido Solidariedade. Fiel escudeiro de Cunha, ele acusou Chico de “contratar empresas fantasmas com notas frias”.
O caso já foi investigado e arquivado pelo Ministério Público Federal, que não viu “qualquer ato de improbidade administrativa”. Requentada pelo subserviente Paulinho, a acusação depõe apenas contra o acusador.
A tropa do presidente da Câmara também providenciou uma moção de censura contra Silvio Costa, que o acusou de “proteger bandido” numa CPI. O novo tiro saiu pela culatra, porque o deputado do PSC ganhou mais palanque para atacar o rival.
A ofensiva institucional contra desafetos é mais uma amostra de que Cunha ficou menor que a cadeira de presidente da Câmara. A cada dia que consegue permanecer no cargo, o peemedebista contribui para apequenar todo o Parlamento.