(G1, no sábado)
Para evitar desgaste ao partido, lideranças do PMDB ouvidas nesta sexta-feira (13) pelo G1defenderam que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não compareça na próxima terça-feira (17) ao congresso da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos da legenda.
Alvo da Operação Lava Jato por suspeita de participação no esquema de desvio de recursos da Petrobras e acusado de ter mentido à CPI da estatal ao afirmar que não tem contas bancárias no exterior, Cunha responde a dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e a um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.
No encontro de terça-feira, os peemedebistas discutirão alterações no estatuto do partido e propostas para que o Brasil se recupere da crise política e econômica – inicialmente a previsão de pauta era a discussão da eventual saída do partido do governo Dilma Rousseff.
A avaliação de senadores e deputados da legenda é que a presença de Cunha poderá causar desgaste e constrangimentos num momento em que o partido quer usar o encontro para se apresentar como “protagonista” na retomada do crescimento econômico do país.
Acusado de manter contas secretas na Suíça, o presidente da Câmara admitiu ser “usufrutuário” de ativos no exterior, mas afirmou que não é o “titular” dessas contas, porque elas são administradas por trustes (entidades legais existentes em vários países e que administram bens de um ou mais beneficiários).
“As vezes em que ele se expôs não foram produtivas. Todas as iniciativas, embora seja um homem muito inteligente, as alternativas que ele propôs até agora não foram boas para ele. Vai ter obviamente imprensa porque esse encontro vai gerar muita expectativa”, disse um importante senador do PMDB.
Esse senador também apontou contradições na versão dada por Cunha para as denúncias sobre as contas na Suíça. “Não é o lugar bom para que ele se exponha, mas cabe a ele fazer a avaliação”, complementou esse peemedebista.
Ao G1, o presidente da Câmara disse que deve “passar” pelo seminário e que só decidirá no dia se fará ou não discurso.
“Deverei passar por lá. Não sei [se vou discursar]. Devo aparecer por lá e na hora decido se falo”, afirmou.
Questionado sobre a posição de colegas de defender que ele não compareça, o presidente da Câmara se limitou a dizer: “Deverei ir”.
Deputados aliados do peemedebista também recomendam que ele não compareça para evitar uma “saia justa”.
Os colegas de Cunha destacaram que, poucos meses atrás, o presidente da Câmara defendia a realização de um Congresso do PMDB para discutir o fim da aliança com o PT e o rompimento com o governo Dilma Rousseff.
No entanto, agora o peemedebista precisa dos votos dos petistas que integram o Conselho de Ética para evitar ter o mandato cassado no processo por quebra de decoro parlamentar.
“Ele defendia o Congresso, defendia o rompimento. Agora, ele vai fazer um discurso lá como? Ele não vai poder fazer um discurso como ele apregoava, porque agora está precisando do PT, na verdade. E porque corre esse risco de alguém falar alguma coisa, [criar] uma saia justa que talvez repercuta depois negativamente para ele”, afirmou um dos deputados do PMDB mais próximos do presidente da Câmara.
Eduardo Cunha é acusado no processo que tramita no Conselho de Ética da Casa de mentir em depoimento à CPI da Petrobras quando disse, em março, que não possui contas bancárias no exterior.
O G1 apurou que o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB, não quer desviar o foco do congresso para as denúncias que pesam contra o presidente da Câmara.
Para Temer, Cunha é “bem-vindo” à reunião se estiver disposto a fazer uma discussão programática.
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o ex-ministro da Aviação Civil Moreira Franco afirmou que Cunha é um militante do PMDB e é livre para comparecer à reunião.
Ele disse que o partido não “esconde a realidade embaixo do tapete”, mas que a situação vivida pelo presidente da Câmara é um problema dele e que o foco da legenda é trazer sugestões positivas para o país.
Segundo Moreira Franco, o partido não vai se “amesquinhar com esse tipo de constrangimento”.
“Se ele quiser ir, ele vá. Não se esconde a realidade embaixo do tapete. Não vamos ficar querendo enganar ninguém. Ao contrário. Ele existe, ele está na presidência da Câmara, ele está, como a presidente Dilma, preocupado em manter o seu mandato. A imprensa toda hora fala de negociações entre o governo, ele e o PT. Isso é um problema dele e é um problema da Câmara”, disse o ex-ministro.
E completou: “Nós não vamos nos amesquinhar com esse tipo de constrangimento”.
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) admite que Cunha poderá ser questionado na reunião do partido sobre as acusações, mas defende que ele esteja presente para se defender.
“Eu acho que ele deve ir e participar. Se ele for interrogado, deve responder e tenho certeza de que vai responder”, declarou.
Comentário do programa – Eduardo Cunha é um “barco à deriva” e os ratos peemedebistas estão abandonando o barco. (LGLM)