O bispo dos pobres

By | 27/12/2015 1:45 am

 

(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha, 25/12/2015  02h00)

A ausência de brasileiros na lista de vencedores do Prêmio Nobel costuma ser apontada como um dos sintomas do nosso atraso. Muitos governos colaboraram para isso ao deixar de investir em pesquisa e educação pública.

Outros preferiram sabotar diretamente os candidatos daqui. Foi o que aconteceu com dom Helder Câmara, indicado ao Nobel da Paz nos anos 70, durante a ditadura militar.

Na semana passada, um relatório divulgado pela Comissão da Verdade de Pernambuco mostrou como o regime se mobilizou para impedir que o bispo fosse premiado. Os generais não perdoavam sua luta pelos direitos humanos, contra a tortura e a favor dos mais pobres.

A comissão localizou documentos secretos do Itamaraty sobre a campanha contra dom Helder no exterior. Telegrama de 1971 do embaixador Jayme de Souza Gomes, representante do Brasil em Oslo, comprova a existência de um “programa de ação contra a candidatura do arcebispo de Recife e Olinda”.

Uma das táticas da ditadura foi ameaçar empresários escandinavos, avisando que a premiação de dom Helder poderia “por em risco os capitais estrangeiros” no país.

No front doméstico, a perseguição era mais bruta. Em 1969, a repressão torturou e matou o padre Antonio Henrique Pereira Neto, auxiliar próximo do bispo. A imprensa foi proibida de noticiar o crime, que comoveu milhares de fiéis.

A censura impedia publicações sobre dom Helder, a não ser para criticá-lo. O escritor Nelson Rodrigues, defensor do regime, costumava chamá-lo de “ex-católico” e “arcebispo vermelho”. “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”, reclamava o sacerdote.

Há oito meses, o Vaticano autorizou a abertura do processo de beatificação e canonização de dom Helder. O bispo não ganhou o Nobel, mas pode virar santo. Feliz Natal.

Comentário do programaE talvez vire santo, antes do mais popular dos nossos santos, Padre Cícero. Dom Helder é o símbolo de uma era, em que a Igreja assumiu a defesa dos mais pobres, dos perseguidos, dos mais fracos. Mesmo com todos os riscos daí decorrentes. E dom Hélder tinha uma diretriz, de acerto hoje tão comprovado pelas esmolas que os governos dispersam por aí. “ Não se deve dar o peixe ao homem. Deve-se ensinar a pescá-lo”. Com a garantia de uma eterna bolsa-família, o brasileiro está desaprendendo a trabalhar. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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