Fechando a cortina

By | 02/01/2016 5:20 pm

 

(Gonzaga Rodrigues, colunista do Jornal da Paraíba)

Os paraibanos fecham a cortina de 2015 faltando pouco para um público de 4 milhões de expectadores, embora nem todos bem sentados.

O cenário ainda não será o mesmo para todos. A primeira diferença, independente da conscientização de quem assiste, surpreende logo nas paisagens físicas e humanas. O labirinto de estradas hoje encenado contrasta ostensivamente com o mapa de 1970, quando o estado inteiro, vendo de perto ou de longe, se extasiava com a construção de uma estrada só, a BR-230, marca histórica do governo Agripino. Hoje não há semana que Ricardo não entregue uma estrada, tantas que já não são novidade.

Outra grande diferença: não há mais população rural. Sertão e Brejo migraram para as pontas de rua, atraídos pelo conforto básico da energia, da água, do cuscuz e feijão sem roçados, independe de seca ou inverno. Os que ainda plantam substituíram o jumento pela moto. Como bem se viu pelos caminhos de roçado asfalto, o jerico, que mereceu estátua noutros tempos, é irmão extinto.

A paisagem perdeu radicalmente o algodão, o “ouro branco” do século 19, sustentáculo das finanças estaduais dos anos 1920, bancando, depois, a modernização urbana de João Pessoa e de Campina Grande.

E foi perdendo outras conquistas agrícolas, como a agave, uma cultura de efeito social mesmo em regime latifundiário. Sumiu de todo nestes últimos anos, insuficiente até para garantir a produção de uma única fábrica de fio agrícola de exportação, a Cosibra, que se mantém com sisal trazido da Bahia.

Aos olhos da minha idade, é tudo agora urbano. Não há mais estrada, é tudo rua, ainda mesmo sem casas ou de casas fechadas como tenho visto em meu Brejo, cortando as matas de Pilões, Serraria, Serra da Raiz, Brejo de Areia e da minha fofíssima Alagoa Nova, que abandonou as terras de roça e de cana para vir morar na rua, despencando em cortiços que o “Minha casa, minha vida” veio imitar sem pagar direitos autorais. Perdão, não é verdade, o governo paga, livrando os migrantes rurais do cabo da enxada, dando a eles o que trabalhando não ganhavam, mesmo infringindo as leis do ajuste fiscal, agora intocáveis como a antiga Petrobras.

Sim, não deu pra ver a escola. Fechou a cortina, ainda bem que com Ruth Avelino regendo o espetáculo da Nova João Pessoa, cidade inteiramente outra. Mas não deu pra ver a escola pública que os paraibaninhos esperam. Não há mais estradas a fazer, centro de convenções e viadutos a concluir, assim, a escola dos meninos pobres deve fazer a cena do próximo ato. Apesar da crise na mídia, nos discursos, a Paraíba não imitou o Rio, pagou o 13º, entupiu as lojas, mesmo queixando-se da inflação, doença que não chega ser novidade desde o 1º dia da República.

 

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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