(Gonzaga Rodrigues, colunista do Jornal da Paraíba)
Os paraibanos fecham a cortina de 2015 faltando pouco para um público de 4 milhões de expectadores, embora nem todos bem sentados.
O cenário ainda não será o mesmo para todos. A primeira diferença, independente da conscientização de quem assiste, surpreende logo nas paisagens físicas e humanas. O labirinto de estradas hoje encenado contrasta ostensivamente com o mapa de 1970, quando o estado inteiro, vendo de perto ou de longe, se extasiava com a construção de uma estrada só, a BR-230, marca histórica do governo Agripino. Hoje não há semana que Ricardo não entregue uma estrada, tantas que já não são novidade.
Outra grande diferença: não há mais população rural. Sertão e Brejo migraram para as pontas de rua, atraídos pelo conforto básico da energia, da água, do cuscuz e feijão sem roçados, independe de seca ou inverno. Os que ainda plantam substituíram o jumento pela moto. Como bem se viu pelos caminhos de roçado asfalto, o jerico, que mereceu estátua noutros tempos, é irmão extinto.
A paisagem perdeu radicalmente o algodão, o “ouro branco” do século 19, sustentáculo das finanças estaduais dos anos 1920, bancando, depois, a modernização urbana de João Pessoa e de Campina Grande.
E foi perdendo outras conquistas agrícolas, como a agave, uma cultura de efeito social mesmo em regime latifundiário. Sumiu de todo nestes últimos anos, insuficiente até para garantir a produção de uma única fábrica de fio agrícola de exportação, a Cosibra, que se mantém com sisal trazido da Bahia.
Aos olhos da minha idade, é tudo agora urbano. Não há mais estrada, é tudo rua, ainda mesmo sem casas ou de casas fechadas como tenho visto em meu Brejo, cortando as matas de Pilões, Serraria, Serra da Raiz, Brejo de Areia e da minha fofíssima Alagoa Nova, que abandonou as terras de roça e de cana para vir morar na rua, despencando em cortiços que o “Minha casa, minha vida” veio imitar sem pagar direitos autorais. Perdão, não é verdade, o governo paga, livrando os migrantes rurais do cabo da enxada, dando a eles o que trabalhando não ganhavam, mesmo infringindo as leis do ajuste fiscal, agora intocáveis como a antiga Petrobras.
Sim, não deu pra ver a escola. Fechou a cortina, ainda bem que com Ruth Avelino regendo o espetáculo da Nova João Pessoa, cidade inteiramente outra. Mas não deu pra ver a escola pública que os paraibaninhos esperam. Não há mais estradas a fazer, centro de convenções e viadutos a concluir, assim, a escola dos meninos pobres deve fazer a cena do próximo ato. Apesar da crise na mídia, nos discursos, a Paraíba não imitou o Rio, pagou o 13º, entupiu as lojas, mesmo queixando-se da inflação, doença que não chega ser novidade desde o 1º dia da República.