(Publicado no Patos Online)
A morte de José Augusto Longo da Silva, na virada do ano, surpreendeu a todos. Apesar dos problemas de saúde, normais em quem ultrapassou os setenta anos de idade, Zé Augusto continuava muito ativo. Era o mais antigo profissional da imprensa local e escrevia uma coluna para o portal Patos Online, abordando principalmente a política, publicando uma média de dois artigos por mês. Há pouco mais de um mês, gravamos com ele uma entrevista sobre os tempos pioneiros do rádio em Patos, entrevista que, por ironia do destino, foi divulgada pela TV Sol poucas horas antes dele falecer.
Nascido em 16 de setembro de 1941, José Augusto era natural de Cajazeiras, onde seu pai, Waldemar Vieira da Silva, funcionário do DNOCS, trabalhou na construção do açude Engenheiro Ávidos, no distrito do mesmo nome. Transferido para o Posto Agrícola de Condado, “seu” Waldemar e dona Maria Antonieta Longo da Silva trouxeram toda a família. Em Condado, Zé Augusto terminou o curso primário. Fez Exame de Admissão no Ginásio Diocesano de Patos, onde cursou o ginasial, em regime de internato, pois seu Waldemar só veio morar em Patos depois de aposentado do DNOCS.
Inaugurada em 1º de Agosto de 1950, a Rádio Espinharas saiu do ar em 1954, por problemas financeiros. Em 1958, o médico patoense Drault Ernany, que também era banqueiro, adquiriu a Espinharas e suas irmãs Arapuã e Caturité, com a finalidade de dar cobertura a sua candidatura para o Senado Federal. Entre os recrutados para a reabertura da emissora estava o estudante José Augusto Longo, com dezesseis anos. Na época, radialista fazia de um tudo e Zé Augusto, de início, fez de tudo um pouco. Depois foi para a área de jornalismo e em seguida para o setor de jornalismo esportivo.
A exemplo do que acontecera com Pereira Lira que inaugurara a Espinharas em 1950, para dar suporte a sua candidatura ao Senado, Drault Ernany tambem não obteve sucesso. Em 1962, Drault Ernany vendeu a Espinharas à Diocese de Patos. José Augusto continuou na emissora, onde fomos encontrá-lo quando lá chegamos em 1964. Na época ele comandava o departamento esportivo, de cuja equipe de reportagem passamos a participar como “pista”, quando havia jogos, nesta época ainda no campo do Diocesano. José Augusto era o narrador esportivo, mas tinha paciência para ir nos ensinando os segredos da profissão, é tanto que Edleuson Franco (o Gago) que, como eu, começou fazendo pista, terminou se transformando em um dos melhores narradores esportivos do Nordeste. Segundo o próprio Zé Augusto, que conviveu com grandes nomes do rádio-esportivo, o Gago era o melhor do Nordeste.
Em 1965, José Augusto virou bancário, indo trabalhar no Banco do Estado da Paraíba, onde chegou à função de gerente. Gerente longe de Patos, trabalhando na então longínqua Princesa Isabel, teve que deixar o rádio, mas continuou colaborando com o departamento esportivo da Espinharas, sempre que tinha tempo. Depois do banco foi para o Departamento de Estradas e Rodagens (DER), repartição pela qual terminou se aposentando. Neste período, entretanto, voltou a “fazer” rádio, tendo sido um dos pioneiros na segunda emissora da cidade, a Panaty AM, da qual o deputado Múcio Sátyro, seu amigo particular, era sócio com o tio Ernani e outros amigos,. Na Panaty comandou o departamento esportivo, inicialmente como narrrador e depois como comentarista esportivo. Na época fazia tambem jornalismo comum. Depois também “fez radio” no grupo Itatiunga, onde também fazia jornalismo. Foi portanto formador de várias gerações de radialistas, seja na área de jornalismo comum, seja jornalismo esportivo.
Casado com dona Alzira Gomes Trindade Longo da Silva, de quem nasceram suas filhas Morgana, Mayza e Mabel que lhe deram três netos, Bruno, Luisa e Augusto. .
Em 1982, José Augusto se elegeu vereador, tendo exercido o mandato até 1988. Para a mesma legislatura fora eleito outro colega seu radialista, Orlando Xavier, eleito com a maior votação obtida por um vereador patoense, até hoje. Orlando fora colega de Zé Augusto na Espinharas de Drault Ernany e depois já na época da Diocese. Nesta época, Zé Augusto passou a assessorar várias prefeituras e câmaras de vereadores da região, por conta das suas amizades políticas e sua experiência como jornalista e como vereador. Assessorias que ele continuou a exercer mesmo depois de deixar as atividades de radialista, mantendo durante algum tempo um programa destinado aos municípios, além de editar uma revista, Nosso Recado, que publicou durante 16 anos. Durante algum tempo foi correspondente em Patos dos jornais O Norte e A União.
Zé Augusto chegou a cursar História na Fundação Francisco Mascarenhas, mas desistiu do curso, já perto da conclusão.
Mesmo tendo ultrapassado os setenta anos, permaneceu ativo como jornalista. Mantinha uma coluna no portal Patos Online, publicando em média duas matérias por mês. O assunto da maioria dos seus artigos era político, assunto que ele dominava como poucos. Era o nosso melhor comentarista político, pelo seu conhecimento da história política local, pela sua independência e pelo seu equilíbrio. Não tinha papas na língua, mas nem entrava em questões pessoais dos políticos, nem faltava com o respeito devido às autoridades. Era um professor, uma fonte permanente de informação para todos nós e vai nos fazer muita falta. Reproduzi aqui neste programa muitas das suas matérias publicadas no Patos Online e meus ouvintes cobravam quando eu deixava de divulgar algum dos seus artigos.
Éramos amigos há mais de cinquenta anos e sua morte realmente me doeu. Para Alzirinha, como ele carinhosamente a chamava, para Morgana, Mayza, Mabel, netos e demais familiares os nossos sentimentos fraternos. Mais do que um amigo, perdemos um irmão.