(Publicado no Patos Online)
Você se lembra de um terreno que a prefeitura de Patos doou, em 2014, para um grupo empresarial de São Bento das Redes alegando que o grupo iria construir ali um grande empreendimento comercial (um shopping, segundo se dizia)? Mais de dois anos depois, o que foi feito no terreno? Qual vai ser a sua destinação? Ao que se informa, vai voltar a ser um loteamento. O grupo de São Bento, não se sabe em troca de que, ganhou vários terrenos, já bastantes valorizados, para vender. E o que a cidade de Patos ganhou com isso?
Para você avaliar o que perdemos, vamos contar uma história interessante.
Um dos programas mais interessantes do Governo Federal, executado através do Ministério do Trabalho, é o JOVEM APRENDIZ. Pela legislação do programa, empresas de certo porte ficam obrigadas a contratar determinado número de jovens como aprendizes. Estes jovens deverão frequentar um curso profissionalizante e ao mesmo tempo trabalharem na empresa, sendo remunerados tanto pelas horas de frequência ao curso, quanto pelo tempo de trabalho na empresa, com base no salário mínimo. Este programa permite preparar os jovens para uma profissão, ao mesmo tempo que os introduz no mercado de trabalho. O contrato de trabalho tem a mesma duração do curso, mas muitos jovens, ao final do curso, são aproveitados pelas empresas e passam a ser empregados efetivos. Mesmo os que não são aproveitados, já terão uma experiência profissional registrada em carteira, o que vai servir de recomendação quando procurarem outro emprego.
Nas cidades maiores, o SENAI, o SENAC, o SEMAT, o SENAR, órgãos vinculados à indústria, ao comércio, aos transportes e à agropecuária, oferecem estes cursos dando oportunidade a milhares de jovens. Além destes órgãos que são financiados com recursos específicos arrecadados junto com o INSS, há órgãos privados que cobram pelos cursos que oferecerem, como é o caso aqui do CIEE.
Em Patos, infelizmente, não temos nenhum destes órgãos oficiais e apenas o CIEE dispõe de cursos, normalmente na área de administração, para atender as empresas, das quais cobram pelos alunos matriculados nos cursos. O SENAI mantém Centros de Educação Profissional em João Pessoa, Campina Grande, Bayeux e Sousa; e o SENAC mantém Centros de Educação Profissional em João Pessoa, Campina Grande e Cajazeiras. Nestes centros eles oferecem cursos das suas áreas de atuação. SENAT e SENAR só tem oferecido cursos em João Pessoa.
O SENAI e o SENAC eventualmente montam cursos em outras cidades do Estado, mas nem sempre conseguem atender toda a demanda do programa JOVEM APRENDIZ. Em Patos, por exemplo, praticamente só o CIEE oferece cursos para atender as empresas da cidade. Infelizmente, estes cursos se destinam à área administrativa, são cursos para assistente administrativo. Enquanto isso, em João Pessoa, o SENAC oferece cursos de informática, auxiliar de faturamento, gestão financeira, legislação fiscal e tributária, representante comercial e recepcionista em serviços de saúde, enquanto o SENAI oferece em Campina Grande os cursos de Costura Industrial, Técnico em Produção de Moda, Confeiteiro, Padeiro, Eletricista de Automóveis, Mecânico de Injeção Eletrônica e Desenhista Copista CAD. Ou seja, são os cursos os mais diversos, abrindo muitas perspectivas para os aprendizes no mercado de trabalho. Estes são apenas exemplos da diversidade de cursos oferecidos pelos dois órgãos.
O resultado é que, na falta de cursos específicos, os jovens aprendizes de Patos ficam restritos praticamente aos cursos de assistente administrativo, cujas vagas são muito raras no mercado de trabalho local, restringindo o aproveitamento destes aprendizes, depois que terminam a participação nos cursos. Por outro lado, não se pode exigir que as indústrias, geralmente com grande número de empregados, contratem aprendizes de assistente administrativos para todas as vagas que deveriam oferecer. Por exemplo, uma indústria com duzentos empregados poderia ser obrigada a contratar até dez aprendizes, mas sem o oferecimento de cursos para as diversas funções existentes na empresa, por exemplo, na área da produção, onde poderiam ser aproveitados ao final do curso, a empresa termina só contratando três ou quatro aprendizes para a área administrativa e quase sem chance de aproveitá-los depois.
Trocando em miúdos. Dezenas de vagas de aprendizes continuam a ser desperdiçadas em Patos, por falta de Centros de Formação Profissional, tanto do SENAI como do SENAC. O SENAC já tem um terreno, a nosso ver de localização muito inconveniente, na antiga Praça dos Pombos, adquirido por permuta com a Prefeitura de Patos. Não sabemos por que, até hoje, não iniciaram a obra, para a qual, segundo se diz, o SENAC já teria recursos garantidos.
Esta semana tivemos conhecimento do que chamamos acima de GOL CONTRA. A cidade de Patos perdeu nestes últimos dois anos a oportunidade de ter um Centro de Formação Profissional construído pelo SENAI. O Centro atenderia à nossa indústria com a formação de mão-de-obra especializada. E dá até para pensar que alguém trabalha contra os interesses da cidade e da sua população. Mais ou menos na mesma época em que a administração municipal de Patos doava um grande terreno para um grupo empresarial da cidade de São Bento, pretensamente construir um grande empreendimento comercial na Alça Sudoste , o SENAI estava pleiteando da Prefeitura de Patos um terreno para a construção de um Centro de Formação Profissional. O SENAI já tinha o dinheiro para construir dois centros de formação profissional, um em Sousa, que já foi concluído e está em pleno funcionamento, e outro em Patos. Durante mais de ano, o SENAI esperou que a prefeitura de Patos lhe cedesse o terreno, sem que houvesse o menor interesse de parte da administração municipal. Buega Gadelha teria inclusive conversado com Hugo Motta tentando interessa-lo na questão, sem que houvesse qualquer manifestação de interesse pela administração de sua avó.
Tomando conhecimento da existência dos recursos e do desinteresse da administração de Patos, o prefeito de Caaporã, procurou o SENAI e pleiteou a construção de um centro de formação naquela cidade, mandando que o SENAI escolhesse o terreno onde quisesse. Como resultado, Caaporã, muito menor do que Patos, ganhou um Centro de Formação Profissional e Patos perdeu a oportunidade de ter o seu Centro de Formação Profissional. Depois que o SENAI resolveu construir o Centro em Caaporã, é que foi oferecido um terreno para construção do prédio em Patos, numa área reservada por um empresário da construção civil, em um loteamento particular, como área de destinação social. Foi tarde. Havíamos perdido a oportunidade de construção de um Centro de Formação Profissional do SENAI, os jovens aprendizes patoenses perderam a chance de se prepararem para o mercado de trabalho, assim como as nossas indústrias perderam a oportunidade de receberem uma mão de obra devidamente preparada.
O que foi que Patos ganhou com o terreno doado em 2014 a um grupo empresarial da cidade de São Bento, onde por coincidência o deputado Hugo Motta (filho do ex-prefeito Nabor e neto da prefeita Francisca) foi bem votado (6.669 votos, 34,39% dos votos do município)? O certo é que, por falta de um terreno, Patos perdeu um Centro de Formação Profissional do SENAI. Será por que o Centro de Treinamento construído pelo SENAI não traria vantagens pessoais para ninguém? (LGLM)