(Ruth de Aquino, colunista da revista Época)
Não há ouros nem copas nesse baralho viciado do poder. Se existe alguma carta fora do baralho é a população iludida, falida e desprezada pelos governantes, federais, estaduais e municipais, e seus representantes no Congresso. As outras cartas fora do baralho são a Ética e o Orçamento. O Brasil de hoje é o Brasil do caos e da irresponsabilidade – na Educação, na Saúde, na Segurança Pública, na Previdência, na Infraestrutura. Só a liberdade de expressão e a democracia nos salvam.
Estamos entre a dama de espadas Dilma Rousseff e o valete de paus Michel Temer, dois zeros à esquerda ou à direita, dois políticos sem carisma, sem planos consistentes, sem uma história política que os credencie a liderar 200 milhões de brasileiros. Uma chapa de doer essa, Dilma e Temer. Dois presidentes acidentais. A diferença entre eles é que uma já fracassou. O outro… está recebendo o beija-mão no Jaburu e gravando áudios de posse antecipada.
Dilma era e sempre foi um poste. Na falta de companheiros afastados por malfeitos, como José Dirceu e Antonio Palocci, nomes preferidos por Lula, Dilma foi eleita com os votos emprestados do líder das massas. Lula continua um dos maiores favoritos para a eleição de 2018, mesmo que, para uma multidão de brasileiros de todas as classes sociais, ele possa ser na verdade “o chefe da quadrilha”.
O “trunfo” de Dilma, para Lula, era ser mulher e gerente durona, além de “especialista em energia” e ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras (!). A presidente decidiu, ao assumir, que seria chamada de “presidenta” e provou ser uma “gerenta incompetenta”. Cercou-se de amigas que não sabiam gerir nada além de seu próprio patrimônio, como Erenice Guerra, acusada de usar a Casa Civil para fazer negócios escusos no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda). Negócios que podem ter causado aos cofres públicos um prejuízo de mais de R$ 19 bilhões.
A mãe do PAC deveria ter acelerado o Crescimento, mas acelerou o Caos e a Corrupção das empreiteiras. Cavou uma cratera com sua irresponsabilidade fiscal e levou com ela todos os que achavam ter virado classe média. Errou na condução tresloucada da economia, errou ao resistir a admitir seus erros. Só propôs um pacto nos últimos minutos do jogo, pouco antes do apito do juiz.
Caso a dama de espadas, Dilma Rousseff, se faça de vítima no processo de impeachment, que identifique seu algoz: ela mesma. Não conseguiu – nem tentou – conquistar o amor de ninguém. Não escutava. Não fazia contas. Era arrogante. Pedalou de capacete, sem ouvir alertas sobre nada: Pasadena, Belo Monte, Petrobras. Dilma é tão surda que liberou, na última semana, a fosfoetanolamina, a tal “pílula do câncer”, nunca testada em humanos, uma falácia condenada por toda a comunidade científica! Populista de raiz, até o fim.
E seu eventual sucessor, o decorativo Michel Temer? Temer é adulado por gregos e troianos, por notáveis e desconhecidos, mas também criticado por quem deveria ser seu aliado, o presidente do Senado, Renan Calheiros, preocupado em “não apequenar” sua biografia ou sua ficha corrida. Temer conseguirá ser tão odiado quanto Dilma se assumir este mandato de transição? Alguém enxerga em Temer o salvador nacional? Na hipótese de o impeachment vingar, se Temer tentar blindar o réu Eduardo Cunha e tentar conter a Lava Jato, se não cortar gastos públicos e se não fizer um governo austero, se não acertar na economia e no planejamento, cairá em desgraça. Além de ouvir panelaços rapidinho, servirá de trampolim para a eleição de Lula em 2018.
Temer pode se arrepender de não ter permitido a Dilma se afundar em seu próprio pântano até a próxima eleição. Os “salvadores” de agora representam sim oligarquias locais corruptas. Mas foram eles os maiores aliados do PT, os principais alicerces de Lula. Que os petistas nunca se esqueçam disso. Os governos de Lula e Dilma compraram a amizade dos Malufs e Malafaias. E agora pagam caro. Ou barato, a História dirá.
Sim, o Brasil precisa se unir. Precisa respeitar as diferenças e acabar com a histeria. Precisa de verdadeiros líderes que promovam a moralidade e o entendimento, como me disse em Brasília a ministra do Supremo Cármen Lúcia, em entrevista na revista Época que está nas bancas. Parar de pagar a aposentados, como está fazendo o Estado do Rio de Janeiro, sob o argumento de que a economia vive “uma tragédia”, é crime contra o ser humano.
Este sim é o grande golpe, farsa, traição, a grande trapaça na mesa de jogo. As vítimas não são os políticos. São os desvalidos. O líder que insistir em trair o povo, com roubalheira, negociatas e incompetência, vai cair. Mais cedo ou mais tarde, vai virar carta fora do baralho.