O país tem pressa

By | 23/04/2016 8:59 pm

 

(Editorial da Folha, na segunda-feira)

Por expressiva maioria -superando com alguma folga o mínimo necessário de 342-, a Câmara dos Deputados manifestou-se neste domingo (17) em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

Num clima de exaltação, mas também de respeito à diversidade, os deputados federais deram sua opinião, ornamentando-a, conforme o caso, de razões sucintas ou de considerações extravagantes.

Poucos trataram das acusações que se dirigem à presidente; contam-se nos dedos aqueles que evocaram as chamadas pedaladas fiscais ou os decretos orçamentários. Prevaleceram apelos à própria família e um quase sempre cínico discurso de combate à corrupção, como se disso o processo cuidasse.

Seja como for, nem pela via jurídica, nem pelas ruas cabe contestar o resultado, legítimo do ponto de vista constitucional e político. Reflete a vontade da maioria da população, e deriva de uma ação conduzida conforme regras sancionadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Abre-se agora um período de transição. Enquanto a análise do impeachment segue para o Senado, o país terá a sua frente um governo paralisado -ou consumido pelas patéticas barganhas a que, nestes dias, entregou-se em vão.

É do interesse de toda a sociedade que esse período transcorra com a máxima presteza, respeitando-se sempre, por óbvio, o devido processo legal. Não há sentido em prolongar artificialmente a permanência de quem já não tem a menor condição de governar.

Não foi convicção desta Folha que o impeachment de Dilma Rousseff representasse a solução mais confiável e consensual para o impasse em o país se encontra.

Este se resolveria pela renúncia simultânea de Dilma e de seu vice, com a imediata convocação de novas eleições presidenciais. A eventual cassação da chapa de ambos, pelo Tribunal Superior Eleitoral, também permitiria esse desenlace.

Deve-se rechaçar, por outro lado, a artimanha governista de recorrer a eleições gerais antecipadas (não previstas pela Constituição), agora que a Câmara dos Deputados autorizou que o Senado julgue o afastamento de Dilma.

É preciso prosseguir. A crise nem de longe se encerrou.

Coloca-se com urgência, aliás, a necessidade de que um dos mais notórios articuladores e beneficiários da batalha do impeachment, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), seja levado à barra da Justiça.

A Operação Lava Jato continuará -é o que se espera- a investigar e punir muitas outras figuras do cenário político; reformas eleitorais e econômicas terão de ser empreendidas em caráter emergencial.

A partir de hoje, a questão mais imediata e urgente se desenvolve, entretanto, no Senado. Que, no mesmo clima de debate pacífico até agora registrado, tome-se sem perda de tempo uma decisão.

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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