(Luiz Gonzaga Lima de Morais, no Patos Online, em 21/05/2016)
Um dos problemas que fragilizaram o Governo Dilma e terminaram tornando aceitável o seu afastamento através do impeachment foi a corrupção desenfreada com a participação dos partidos aliados ao Governo, entre eles o PMDB governista de hoje. Afastada Dilma, assume interinamente o vice-presidente Michel Temer. Do qual se exige que “mostre serviço” mantendo o combate à corrupção e tomando medidas que revertam a situação de ruína da economia do país. Para reverter a situação da economia, serão necessárias medidas antipáticas como corte das despesas públicas, inclusive atingindo os salários dos funcionários públicos, os investimentos, os programas sociais, a Previdência Social.
Para aprovar estas medidas, o presidente interino vai precisar do apoio do Congresso Nacional. Aí é que começa o problema. Como obter o apoio do Congresso “esnobando” as principais lideranças dos partidos que tornaram possível o impeachment de Dilma e a ascensão de Michel Temer ao poder, se muitas destas lideranças são acusadas de corrupção? Sem estas lideranças ele não conseguirá apoio no Congresso e ficará “de mãos amarradas”. A única saída é montar o seu governo com suspeitos e acusados de corrupção e esperar que a Justiça faça o seu trabalho de afastar estas lideranças à medida que forem condenadas pelos crimes de que são suspeitas ou já tornadas réus nos processos que tramitam na primeira instância ou no Supremo Tribunal Federal.
Para garantir a continuidade dos processos, a primeira providência para efeito de enfrentamento das cobranças do público foi garantir que não se tocaria nas operações que apuram os crimes de que são acusadas estas lideranças, tais como a principal destas operações, a Lava-Jato. Garantir a continuação da Lava-Jato foi uma das primeiras providências do Governo Temer. Uma espécie de blindagem do Governo contra as críticas por ter entre os seus ministros lideranças maculadas por acusações de crimes os mais diversos. Muitas das quais já em posição de mando no Governo anterior. Ou seja, o Governo Temer promete não prejulgar ninguém, mas, por outro lado, não impedir que a apuração dos ilícitos deixe de ser feita, o que vai permitir à Justiça punir os culpados. Com isso o Governo, indiretamente, vai cortar “na própria carne”, mas a Justiça é que vai arcar com o desgaste, que para ela é irrelevante desde que Justiça seja feita.
É claro que as lideranças que forem atingidas vão “chiar”, por acharem que poderiam ter sido blindadas pelo Governo, como o Governo Dilma tentou fazer com Lula e outras lideranças. Mas as exigências da população estarão sendo atendidas e com isso se aliviará também o desgaste que Governo e Congresso sofrerão por conta das duras medidas que terão que propor e aprovar para recuperar a economia do país.
Muitas críticas, principalmente de parte dos petistas, serão feitas a Temer por ter entre seus auxiliares acusados ou réus na operação Lava-Jato e outras, mas é o preço a pagar pelo presidente interino, para ter o apoio do Congresso Nacional. Se ele conseguir tirar o país do “buraco” (impossível em seis meses e difícil em dois anos e meio) ou pelo menos se a economia começar a se recuperar, tudo lhe será perdoado.
Quanto a atuação do PT, nada nos surpreende. Está fazendo o papel de quem deixou de ser situação, gozando de todas as regalias, para voltar a ser oposição, deixando de andar de carro oficial, para andar de bicicleta. Com relação às acusações de que a equipe de Temer está coalhada de corruptos, que moral tem o PT para reclamar, se até ontem comandava uma “gang” de que participavam tanto os seus partidários como muitos dos que hoje estão usufruindo as benesses do poder. A “gamela”, como dizia Zé Cavalcante, continua a mesma, só mudou o rebanho que come nela. E no nosso caso atual, nem todo mundo largou a “gamela”, só mudou de posição.