(Ruy Castro, colunista da Folha)
No início do ano, a Eurasia, principal consultoria política do mundo, pôs o Brasil em 8º lugar entre os dez maiores riscos de 2016 – um país sobre o qual se devia pensar duas vezes antes de investir. Como todos os institutos do gênero, a Eurasia se baseia em fatores geopolíticos, econômicos, sociais e outros para chegar a essa medição de instabilidade. A diferença parece estar na elasticidade que seu diretor, o cientista político americano Ian Bremmer, atribui ao último item – “outros”.
Em entrevista à Folha nesta terça (31), ele incluiu entre as variáveis o fato de a primeira-dama em exercício, Marcela Temer, ter o nome de seu marido tatuado na nuca – uma cafonice que, para ele, nem Melania, mulher de Donald Trump, candidato republicano à Presidência dos EUA, cometeria. É um argumento e, com isso, ficamos informados de que temos agora que contar com as tatuagens de risco para avaliar a performance de um país.
Para mim, no entanto, o que torna o Brasil difícil de entender e confiar é a vertiginosa troca de papéis entre seus atores políticos. Até há pouco, por exemplo, para o PT, a Operação Lava Jato era uma armação voltada contra o partido e a ser obstruída de qualquer jeito. Agora, segundo eles, quem quer obstruí-la são seus ex-aliados, os corruptos do PMDB, e que só por isso derrubaram Dilma.
Tenta-se vender lá fora a ideia de que há um golpe no Brasil. Só não se pode dizer que é o golpe mais chato da história, com intermináveis ritos, prazos, pareceres, defesas, comissões e votos a favor da presidente que se tenta golpear e um Senado em que há sempre dois ou três com garrafa vazia para vender.
E vem aí a grande ironia. Embora lutem contra o impeachment, nem Lula, nem o PT, nem os “movimentos sociais” querem Dilma de volta. No que, pela primeira vez, estão de acordo com a nação.