Uma briga entre facções criminosas rivais seguida de rebelião no maior presídio do Amazonas deixou 56 mortos entre domingo (1º) e segunda-feira (2) em Manaus, capital do Amazonas.
O motim durou 17 horas e, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado, há decapitados entre as vítimas. Inicialmente o governo do AM falou em ao menos 60 vítimas, mas na tarde desta segunda o número foi atualizado pelos legistas. “Nós tínhamos contado 60 [mortos]. Mas contaram repetido parte dos corpos”, disse Pedro Florêncio, secretário de Estado de Administração Penitenciária.
A matança é a maior em número de vítimas em presídios do país desde o massacre do Carandiru, em 1992, em São Paulo, quando uma ação policial deixou 111 presos mortos na casa de detenção. Desde então, há outras tragédias no sistema carcerário nacional, como a rebelião em 2004 na Casa de Custódia de Benfica (RJ), quando morreram 31 pessoas. Também entram na lista o motim no presídio de Urso Branco (RO), que deixou 27 mortos em 2002, e a rebelião no Complexo Penitenciário de Pedrinhas (MA) em 2010, com 18 mortos.
Em Manaus, o motim começou na tarde de domingo (1º), no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), localizado no km 8 da BR-174. Na unidade havia 1.224 homens, o triplo da capacidade (de 454 vagas), segundo dados do mês passado do governo estadual. No Compaj ainda há outras duas unidades –uma para presos do regime semiaberto e outra para mulheres detidas provisoriamente. O Amazonas possui 11 unidades prisionais.
Segundo diagnóstico elaborado em inspeção de outubro do ano passado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o presídio foi classificado como “péssimo” para qualquer tentativa de ressocialização, com presos sem assistência jurídica, educacional, social e de saúde.
A rebelião foi motivada por uma briga entre as facções Família do Norte (ligada ao Comando Vermelho) e PCC, segundo Marluce da Costa Souza, coordenadora da Pastoral Carcerária do Estado. O governo do Estado também informou que os chefes das facções não fizeram exigências. O massacre é tratado como uma guerra entre os grupos criminosos, e, de acordo com as investigações iniciais, a rebelião foi comandada pela Família do Norte.
“Há uma guerra silenciosa que o Estado tem que intervir. Que guerra é essa? Narcotráfico. O que nós estamos vendo, o que vimos hoje? Uma facção brigando com a outra. Porque cada uma quer ganhar mais dinheiro que a outra, a briga é por dinheiro e por espaço”, disse o secretário da Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, na entrevista coletiva desta segunda.
O juiz titular da Vara de Execução Penal do TJ (Tribunal de Justiça) do Amazonas, Luís Carlos Valois, disse que ficou chocado com o que viu no Compaj. “Nunca vi nada igual na minha vida, aqueles corpos, o sangue… fiquem com Deus!”, escreveu Valois em sua página no Facebook.
De acordo com Valois, sua presença no local foi requisitada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado. “Chegando lá os presos tinha tomado todo o regime fechado e o semiaberto. Tinham feito um buraco e passavam de um lado para o outro”.
O juiz diz que liderou as negociações com os detentos. “[Eles pediram] apenas que nos comprometêssemos a não fazer transferências, a manter a integridade física e o direito de visitas”.
Outras quatro pessoas morreram na Unidade Prisional do Puraquequara, na zona rural de Manaus. O governo considera a situação estável no local.