A liberdade funcionaria para Cunha como um fabuloso antidepressivo. Atrás das grades, o personagem continuará trocando o sono por divagações noturnas sobre o seu futuro penal. A qualquer momento, pode concluir que a delação também funciona como um barbitúrico. Passaria a dormir bem. E seus ex-companheiros é que teriam pesadelos.
Quanto mais longeva for a cana, maior será o risco de Cunha tornar-se um delator. Ele já usufrui das facilidades da hospedaria carcerária de Curitiba há três meses e 26 dias. Na semana passada, ao negar um pedido de habeas corpus formulado pela defesa de Cunha, Sergio Moro enfiou dentro do seu despacho uma recordação curiosa.
Moro recordou que, no curso do processo, Cunha arrolou Michel Temer com sua testemunha de defesa. O juiz da Lava Jato lembrou que teve de vetar algumas das perguntas que o ex-deputado dirigira ao presidente. Eram itens “absolutamente estranhos ao objeto da ação penal”, escreveu Moro. “Tinham por motivo óbvio constranger o Exmo. Sr. Presidente da República e provavelmente buscavam com isso provocar alguma espécie intervenção indevida da parte dele em favor do preso.”
São claros os propósitos das palavras incluídas por Moro no despacho em que manteve Cunha preso. O juiz quis sinalizar que não está alheio aos movimentos da turma do torniquete, que trabalha para “estancar a sangria”. Ao manter a situação inalterada, o Supremo como que desafiou involuntariamente a resistência do preso.
Eduardo Cunha é um outro nome para frieza. Mas o que está em jogo é a sua capacidade de sopesar custos e benefícios, não o seu poder de resistência. O ex-deputado pode concluir que a delação é um bom negócio. E se há algo que seus ex-amigos não ignoram, é que Cunha entende de negócios como poucos. Daí a respiração presa.
(Uol Online)