(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)
O depoimento de Antonio Palocci é devastador para a defesa, a imagem e o futuro de Lula. Desta vez, o ex-presidente não pode alegar que foi fritado por um empresário aflito para sair da cadeia. Quem o jogou na fogueira foi um velho companheiro, que atuou como figura-chave nos governos do PT.
Palocci afirmou à Justiça que Lula fechou um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira do país. Ele afirmou que o “pacote de propinas” incluiria um terreno para o instituto do ex-presidente, as reformas no sítio de Atibaia e a reserva de R$ 300 milhões.
De acordo com o ex-ministro, a relação “bastante intensa” da construtora com os governos petistas teve um preço. A empresa teria recebido vantagens em troca de “benefícios pessoais” e doações de campanha, via “caixa um e caixa dois”.
Preso há quase um ano, o petista já foi condenado a outros 12 por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele negocia um acordo de delação e decidiu antecipar informações ao depor em um dos processos contra Lula.
A paulada de Palocci atinge o ex-presidente num momento em que ele tentava trocar o papel de investigado pelo de candidato. O ensaio durou pouco. Um dia depois de encerrar a caravana pelo Nordeste, Lula volta a ser bombardeado pela Lava Jato.
As novas acusações ainda precisam ser comprovadas, mas já instalaram um clima de desânimo no petismo. O ex-ministro é um dos políticos mais importantes da história do partido. Idealizou a “Carta ao Povo Brasileiro”, que embalou a campanha vitoriosa de 2002, e pontificou como ministro da Fazenda (governo Lula) e da Casa Civil (governo Dilma).
Em abril, Lula disse à Rádio Guaíba que não se preocupava com uma possível delação do aliado. “Palocci é meu companheiro há 30 anos. É um dos homens mais inteligentes deste país. E se ele resolver falar tudo o que sabe pode, sim, prejudicar muita gente. Mas não a mim”, afirmou. Pois é.