O mistério da salvação de Temer

By | 24/09/2017 8:44 am

 

(André Singer, colunista da Folha)

Apesar das atribulações decorrentes da transição no Ministério Público, com a rápida queda na sexta de um dos membros da nova equipe de Raquel Dodge, a segunda denúncia de Rodrigo Janot contra o atual ocupante do Planalto merece leitura atenta. Mais ampla que a primeira, a peça agora enviada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Câmara retroage ao início dos anos 2000, quando Temer foi eleito presidente do PMDB, para caracterizar a formação do agrupamento que acabou por ascender ao poder máximo da República.

O relato do ex-procurador-geral dá conta de uma sistemática ocupação de espaços –tanto no Legislativo quanto no Executivo– com vistas à obtenção de dinheiro. Comandada por Michel Temer, a tropa formada por Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha e Wellington Moreira Franco teria agido sempre em conjunto, apesar de por muito tempo parecer que Cunha fosse um ponto fora da curva.

A narrativa, contudo, parece não comover a maioria dos parlamentares. Tal como na primeira ocasião, o presidente da República caminha impávido para a absolvição no plenário da Casa. Em 2 de agosto passado, obteve facilmente os sufrágios suficientes para bloquear as acusações oriundas do gravador-geral da República. Não apenas conseguiu o mínimo de 171 deputados contra a continuidade do processo como colocou 263 parlamentares a seu favor (contra 227). Mostrou, portanto, que dispõe de maioria (simples, é verdade) para prosseguir o desmonte do Estado.

De que maneira explicar tantos detentores de representação pública dispostos a arriscar a reeleição para sustentar um governo com 5% de popularidade? Um especialista conhecedor da política real me escreve dizendo que não arriscam nada. Nos rincões do país, o eleitor não sabe quem é o candidato a deputado no qual votará em 2018. Receberá do prefeito um número, digitará na urna, apertará o confirma e acabou. Está reeleito mais um dos que sustentou o quadrilhão.

Acrescento que os rincões são mais importantes na política do Brasil do que se costuma pensar. De acordo com o IBGE, 43% da população vive espalhada em 5.260 municípios com até 100 mil habitantes. Em particular, 16% se encontra em quase 4.000 municípios de apenas 20 mil moradores. E, além das características próprias do território continental, o cientista político Jairo Nicolau (“Representantes de quem?”, 2017), assinala que “a história das regras de distribuição de cadeiras no Brasil é marcada, desde a Constituição de 1891, com normas que favoreceram os Estados menos populosos”.

Talvez não seja a missa inteira, mas ajuda a entender parte do mistério da salvação.

 

Comentário do programa – Apesar de partir de um petista (André Singer foi secretário de imprensa de Lula), o artigo espelha a verdade. O deputado pode fazer toda qualidade de besteira em Brasília, o analfabeto político que vota nele aqui “não está nem aí”. Vai continuar votando nele. E se você anular o seu voto, vai ajudá-lo a ganhar a eleição. Esta lição, Padre Valdomiro aprendeu com um bêbado. “Se o senhor que sabe votar deixar de votar, o analfabeto vai continuar a votar e a eleger os piores candidatos”. Monsenhor Valdomiro ainda está aí para contar a história. Durante a semana, no programa de Jamerson Ferreira, na Arapuan FM, ouvimos várias pessoas dizendo que mesmo ele sendo ladrão votariam em Lula. Esquecem que quem vota em ladrão concorda com a sua desonestidade e é capaz de fazer tudo o que ele faz. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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