O seu a seus donos

By | 08/10/2017 6:39 am

 

(Carlos Heitor Cony, escritor e colunista da Folha)

 

Durante os oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, acredito que o tenha criticado duas ou três vezes por semana. Cheguei a escrever, com ilustrações de Angeli, editado pela Boitempo, um libelo intitulado “O Presidente que Sabia Javanês”.

 

Mudando de editora, suprimi esse livro de minha obra, não só pela virulência da linguagem como por atitudes que FHC tomou durante o seu mandato, inclusive a da reeleição.

 

O tempo passou, FHC passou e eu também passei. Candidato a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, tive o prazer de votar nele e dele tive o prazer de ouvir o melhor discurso sobre Joaquim Nabuco, que elogiei fartamente aqui neste canto de página.

 

Não votaria nele para síndico do meu prédio, mas reconheço nele um dos melhores presidentes que o Brasil já teve. Na última semana, embora de uma família de militares, FHC elogiou o silêncio das tropas, que cumpriram um dispositivo tradicional de se considerarem o grande mudo da vida nacional.

 

Não poupou o Judiciário, que ocupou o papel de juiz e verdugo dos corruptos que infestam a atual fase da República. Ele diz que não há um nome de general dando palpites sobre a Operação Lava Jato, função assumida pelo Judiciário, que nem sempre chega a soluções corretas, concedendo habeas corpus, prisões domiciliares e penas absurdas que equivalem a centenas de mortes.

 

O caso de Bolsonaro parece uma exceção. Predomina entre as Forças Armadas uma cautela para impedir os crimes e desmandos do último regime militar. Ponto favorável para FHC e lição que não deve ser esquecida pelos crimes da ditadura de 1964.

 

Ao contrário da ditadura de 1964, não sabemos os nomes de militares que desejam uma volta ao passado, como fazem Bolsonaro e alguns magistrados que se investem de varões de Plutarco.

 

Comentário do programa – Quem deseja a volta dos militares deve ler um pouco da história recente do país. Nossos problemas são muito grandes, com políticos desonestes e magistrados que fazem lá também suas besteiras, nas sentenças que prolatam. Mas as soluções para o Brasil devem ser encontradas dentro da lei. Cada um de nós tem que virar um pregador da força do voto para fazer o país voltar aos trilhos. Podemos reprovar os políticos corruptos e suscitar representantes populares honestos e independentes. Sempre tivemos corruptos, embora tenham proliferado como gafanhotos nos últimos tempos, mas sempre tivemos homens honestos enfrentando estes corruptos. Talvez tenhamos nos corrompido também e por isso tenhamos escolhidos tantos corruptos para nos representarem, mas ainda podemos nos redimir. O caminho não é a volta dos militares nem o voto nulo. O caminho tem que surgir das urnas. Não queremos endeusar FHC, pois ele não merece tanto, mas mostrar que ainda há bom senso em alguns. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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