(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)
Michel Temer é um vencedor. Em junho, ele se tornou o primeiro presidente do Brasil a ser alvo de uma denúncia criminal no exercício do cargo. Foi acusado de pedir propina, obstruir a Justiça e chefiar uma quadrilha, mas não perderá o cargo nem a liberdade. O caso dormirá numa gaveta até 2019.
Quando as gravações da JBS vieram à tona, a pinguela de Temer balançou. Ministros o aconselharam a renunciar, e aliados discutiram abertamente sua sucessão. O presidente quis pagar para ver. Pagou caro e à vista, como mostrou o noticiário sobre a negociação na Câmara.
Nos últimos quatro meses, o peemedebista ofereceu de tudo para manter os deputados no cabresto. Seus articuladores leiloaram cargos e emendas na bacia das almas. Até reservas na Amazônia foram rifadas no balcão de negócios do Planalto.
A operação de compra e venda deu resultado. Nesta quarta, a Câmara encenou o último ato da blindagem presidencial. A denúncia foi barrada por 251 votos a 233.
Em minoria, a oposição fez o barulho possível. Temer também foi atacado por dissidentes da base. Um deputado do PR, que controla o Ministério dos Transportes, exigiu “cadeia e algema” para o presidente. Um deputado do Solidariedade, dono do Incra, acusou-o de chefiar o “Primeiro Comando do Planalto”.
Os defensores do governo foram mais breves. Com medo do eleitor, muitos balbuciaram o “sim” e fugiram do microfone. A história registrará que Paulo Maluf deu o primeiro voto a favor de Temer. O voto 171 foi de Celso Jacob, o deputado presidiário. Depois de ajudar o presidente, ele voltou à sua cela na Papuda.
Temer se sagrou vencedor, mas terá que engolir batatas murchas e amassadas. Sua base de apoio encolheu, sua impopularidade bateu recorde e seu governo ficou ainda mais fraco e desmoralizado. Mesmo assim, ele tem o que festejar. É melhor continuar no palácio do que antecipar o encontro com os tribunais.
Comentário do programa – Houve quem se admirasse com a nova vitória que Temer obteve na Câmara. Mas o que é que vocês queriam? Será que deputados com o “rabo preso” como a maioria dos nossos parlamentares poderiam votar diferente. Qual o primeiro pensamento deles? “Se o Presidente da República for processado e cassado, amanhã será a minha vez.” Como diz a sabedoria popular, “vamos tirar o nosso da seringa”. E ainda tem deputado com a “cara de pau” de dizer que votou a favor de Temer para garantir verbas para seus redutos eleitorais. Apenas demonstraram que são capazes de tudo. Talvez até de vender a própria mãe. Para quem estranhou o título, é preciso recorrer ao romance Quincas Borbas, de Machado de Assis, de onde foi tirada a expressão, “ao vencedor as batatas”. (LGLM)