(Hélio Schwartsman, colunista da Folha)
Essa é difícil. Você prefere eleger um presidente com problemas de caráter, mas que proponha políticas que estão de acordo com suas preferências, ou um que seja um homem íntegro —”a mentsch”, para usar a expressão iídiche—, mas de cujas ideias você discorde peremptoriamente?
O ideal seria reunir num só homem o caráter e as boas propostas, mas as Parcas não são tão generosas para com os mortais. Como bom consequencialista, eu me inclino mais pela primeira opção. Se o sujeito é um fdp, mas está fazendo o que é certo, centremo-nos nos resultados.
A eleição de uma pessoa para presidir o país, afinal, não equivale à escolha de alguém para casar. O objetivo não é passar a vida inteira ao lado desse indivíduo, mas apenas definir quem vai administrar o país pelos próximos quatro anos, na esperança de que proporcione avanços.
Essa visão mais pragmática encontra eco nos dois campos ideológicos. Os que defendem o governo Temer o fazem porque, apesar das gravíssimas suspeitas contra o presidente e seus auxiliares, a administração começou a tirar a economia da lama. De modo análogo, parte dos que querem reeleger Lula se dobra a alguma versão do “rouba, mas faz”. Já Dilma, numa interpretação benigna de sua Presidência, seria nosso tipo dois: uma pessoa no geral correta, mas incompetente. Não há muita gente defendendo sua volta.
É evidente, porém, que as coisas não são tão simples. Em muitas situações, problemas de caráter podem comprometer o desempenho das funções presidenciais. Esse é claramente o caso de Donald Trump.
A moral da história, parece-me, é que, na escolha de um presidente, faz sentido privilegiar a viabilidade do programa, mas o caráter não pode ser inteiramente esquecido. O cara não precisa ser o melhor sujeito do mundo, mas também não pode ser tão patife que se torne disfuncional. Lembre-se disso no ano que vem.