É dando que se recebe

By | 31/12/2017 4:07 am

 

(Bernardo Mello Franco, colunista da Folha)

 

Líder do Centrão na Constituinte, o deputado Roberto Cardoso Alves deixou uma máxima para a história: “É dando que se recebe”. Era uma releitura picareta da oração de São Francisco de Assis. Em vez de pregar a generosidade, o peemedebista defendia as barganhas em troca de votos no Congresso.

 

Três décadas depois, a frase continua a pautar as relações entre o Planalto e o Legislativo. O velho Robertão está morto, mas o fisiologismo tem um novo porta-voz: é Carlos Marun, recém-promovido a ministro da Secretaria de Governo.

 

Na semana passada, governadores começaram a acusá-lo de chantagem. Eles dizem que Marun exige votos a favor da reforma da Previdência em troca da liberação de empréstimos da Caixa Econômica Federal.

 

O primeiro a protestar foi o governador de Sergipe, Jackson Barreto. “Marun me falou que há vários contratos com a Caixa, mas o governo só vai liberar após a votação da reforma. Achei uma coisa fora de propósito”, reclamou, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

 

Em outros tempos, o governo tentaria desmentir a acusação de chantagem explícita. Formado na escola política de Eduardo Cunha, Marun não se preocupa nem com as aparências. Nesta terça-feira, ele confirmou a pressão e defendeu o escambo com verbas da Caixa.

 

“Financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo. Não entendo que seja uma chantagem”, disse o ministro. “O governo espera daqueles governadores que têm recursos a ser liberados […] uma reciprocidade no que tange a questão da Previdência”, acrescentou.

 

Os bancos públicos podem e devem executar ações de governo, como o financiamento de projetos de infraestrutura e o empréstimo de recursos para Estados e municípios tocarem obras. Condicionar os repasses a votos no Congresso tem outro nome. É o velho “toma lá, dá cá”, que tipos como Robertão e Marun não têm vergonha alguma de defender.

 

Comentário do programa – Não é novidade o “dando que se recebe” no governo Temer. Michel Temer se livrou de duas acusações comprando votos e está fazendo a mesma coisa para aprovar a malfadada reforma da Previdência. Enquanto houver deputado para se vender e verba para liberar, quem dá as cartas é Michel Temer. (LGLM)

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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