(Vinicius Torres Freire, colunista da Folha)
FALA-SE muito da multiplicação de presidenciáveis e da decorrente fragmentação do voto. Nessa situação, que nem sabemos se vai perdurar até maio, a eleição em tese se torna mais imprevisível. Torna-se também mais provável a vitória de um programa ou candidato com menos respaldo nas urnas ou de maioria menos enfática, ao menos.
Discute-se menos um problema que, por tentativa e talvez erro, vai se chamar aqui de fragmentação pobre da conversa ou dos chamarizes eleitorais que partidos e candidatos vão oferecer na campanha.
A economia vai melhorar, sim, mas talvez apenas a metade mais rica da população sinta o refresco na pele e no ânimo até o fim do ano (leia-se mais sobre isso mais abaixo). O programa econômico de quase toda elite social e política, um plano liberal, até agora causa repulsa a uns dois terços do eleitorado, ao menos nos termos e nos limites em que foi proposto.
Um sucesso temporário ou publicitário do remendão da violência no Rio e a “agenda da segurança” podem encantar parte dos eleitores. É o programa direitista do governismo e da extrema direita. Talvez um sexto do eleitorado tenha sido hipnotizado de vez pela propaganda do ódio, da violência e do autoritarismo de capitães do mato.
Por volta de um quinto parece órfão e perdido quando Lula sai da urna, quase todos na metade mais pobre do país, para os quais quase todos os demais candidatos não parecem ter planos ou conversas convincentes.
Por enquanto, é uma eleição de conversa muito fragmentada, pobre de ideias políticas. Uma eleição de tentativas de truques, outsiders, e golpes de propaganda, como a “agenda da segurança”, que será disputada por Michel Temer e Rodrigo Maia, no governismo, e pela extrema direita e seus colaboracionistas.
Não há partidos com alguma identidade relevante ou consequente, como o foram PT e PSDB, com chance clara de chegar às finais. Não há programas abrangentes ou que toquem em problemas centrais do país e das preocupações essenciais do eleitorado.
ECONOMIA MELHOR?
O desemprego mal se moveu de janeiro de 2017 (12,6%) para o janeiro deste 2018 (12,2%). Deve cair mais rapidamente neste ano do que no passado, talvez para 11% em final do ano, ante 11,8% de dezembro passado. Mas são extensos os danos colaterais no universo do trabalho e, também, as possíveis consequências para a política.
Pesquisa do IBGE mostra que pessoas desempregadas, em trabalho precário ou insuficiente e de algum modo desalentadas, são quase 24% da força de trabalho, cerca de 26 milhões de pessoas.
Dados o histórico do tamanho da precariedade desde 2012 e o nível provável de desemprego no final do ano, desempregados, precários e desanimados devem ainda ser 20 milhões até a eleição. Na pior das hipóteses, esse mundo de gente sofrida pode estar distribuído por domicílios de modo a afetar diretamente outros 50 milhões: uns 70 milhões de prejudicados.
Nesse caso, trata-se de metade da população maior de 18 anos. Pode ser menos ou até mais, pois há parentes, vizinhos e amigos a ver as dificuldades e temer pelo próprio futuro. Para essas pessoas, o que significa “a economia melhora”?