(Bruno Boghossian, colunista da Folha)
Apesar do divertido otimismo de Rodrigo Maia ao dizer que chegará “com certeza” ao segundo turno da corrida presidencial, o lançamento de seu nome só terá um efeito sobre a disputa por enquanto: a inflação do mercado de alianças partidárias, com a valorização até das siglas mais insignificantes no jogo de barganhas da eleição.
Ao menos 12 legendas, do MDB ao PHS, mandaram representantes à convenção do DEM para fingir que poderão apoiar o presidente da Câmara. Seria um desatino acreditar que tantos políticos querem apostar em um candidato que tem 1% das intenções de voto e poucas condições de crescer nos próximos meses.
O flerte público, como de praxe, é mais blefe do que lance sincero.
A maioria dos partidos só está interessada em provocar a cobiça de candidatos mais competitivos, que sentirão o medo do isolamento e aceitarão pagar caro por alianças nos minutos finais das negociações.
O principal alvo nesse campo é Geraldo Alckmin (PSDB). O risco de solidão é tão grande que levou dirigentes tucanos a admitirem concessões sem precedentes em troca de apoio a sua chapa presidencial —como abrir mão de lançar candidatos a governador em estados estratégicos para apoiar nomes de outros partidos.
Siglas como MDB, PP, PRB e o próprio DEM hesitam diante de Alckmin porque acreditam que o paulista pode naufragar e levar todo o bloco de centro-direita a uma derrota. Em conversas reservadas, porém, esses partidos confessam que não deve surgir uma alternativa melhor e demonstram disposição em apoiar o tucano se receberem recompensas políticas.
E o que Maia ganha com isso? O presidente da Câmara se torna coordenador de um grupo de siglas que poderá negociar em conjunto o apoio a outro candidato caso seu nome não decole. Mesmo que não seja candidato, Maia terá papel de destaque na corrida presidencial e ampliará o poder que deve exercer a partir de 2019 se essa chapa for vitoriosa.