(Ruy Castro é um dos maiores biógrafos brasileiros, já escreveu sobre Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues)
O assassinato da vereadora Marielle Franco tem todas as características de um recado. Foi friamente planejado, com o requinte de carros de tocaia, conhecedores dos deslocamentos da vítima e comunicando-se entre si com os faróis. E ainda mais friamente executado, por um atirador experiente e treinado, que nem precisava ver o alvo. Marielle, apesar de militante e combativa, não tinha por que ser esse alvo —segundo consta, nunca fora ameaçada. Donde, se é um recado, o que diz e para quem?
Vide o caso da juíza Patrícia Acioli, executada em 2011 com 21 tiros no rosto e no tórax, disparados por quatro homens de capacete em duas motos, ao chegar sozinha à sua casa em Piratininga, bairro de Niterói. Patrícia tinha 47 anos e era mãe de três adolescentes.
Em dez anos como juíza, condenara 60 policiais acusados de corrupção e de pertencer a milícias ou a grupos de extermínio. Ao contrário de Marielle, Patrícia vivia sendo ameaçada e andava com escolta. Na noite do crime, por acaso —ou não— estava sem. Como os assassinos ficaram sabendo?
Pela ferocidade, a execução de Patrícia teria mais características de vingança, de ajuste de contas, que a de Marielle. Mas era também um recado —uma mensagem para as forças da ordem, de que o crime está preparado para o combate que, mesmo tibiamente, tentam lhe impor. E de que tem mais recursos do que se supõe —sua munição, por exemplo, entra em seus revólveres pelos meios legais.
Nenhum dos últimos governos preocupou-se com a segurança no país. Sob Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, o crime cresceu à vontade e a taxas superiores às da economia. Foi-lhe permitido infiltrar-se nos órgãos que deveriam combatê-lo e, com isso, fazer parte do Estado.
Será difícil extirpá-lo sem arrancar nossas próprias tripas.