(Celso Rocha de Barros, Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford)
Se ele se dedicar a um programa de centro-esquerda sacrificando seu ego, será um estadista.
Quando todos pareciam conformados que o outsider da eleição seria um deputado encostado que só aprovou um projeto em 30 anos de carreira, voltou com força a articulação em torno da candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência da República pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Barbosa vinha sendo cortejado como vice dos sonhos por Marina Silva, Ciro Gomes e Luciano Huck. Qualquer uma das três candidaturas receberia um grande impulso acrescentando o nome do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) à chapa.
Uma chapa que incluísse dois entre Ciro, Marina e Barbosa (ou mesmo Haddad) largaria como favorita para 2018. Uma candidatura de centro-esquerda que também fosse a candidatura pró-Lava Jato por excelência seria um adversário formidável, mesmo para Lula. E Lula não estará na urna.
Barbosa sozinho não é tão forte: divide o eleitorado de centro-esquerda com Ciro e Marina, reforçando o risco de que nenhum dos três vá ao segundo turno. O PSB é uma das noivas mais cobiçadas na disputa das alianças neste ano, mas, sozinho, não é um partido grande. Barbosa, como Ciro, tem reputação de ter temperamento difícil, e o temperamento do candidato parece tão mais importante quanto mais faltem em sua coalizão aliados fortes que possam lhe fazer contrapeso.
Além disso, não sabemos o quanto do discurso da ética na política já foi sequestrado pela fraude bolsonarista, quanto dele já se converteu irremediavelmente em desânimo.
E não sabemos o quanto da política de indignação dos últimos anos é realmente capaz de participar da luta institucional. Se Barbosa for candidato, que seja para disputar o jogo político. Se a expectativa for de uma candidatura da pureza universal, é melhor nem começar. Se não for para discutir com o Congresso, melhor parar agora.
E, mesmo assim, seria um erro subestimar o candidato Joaquim Barbosa.
O PSB tem muito pouca máquina, mas não sabemos o quanto isso será importante neste ano. Uma parte grande da máquina corre risco de terminar eleitoralmente esterilizada nas mãos de candidaturas fracas (como a de Temer).
O ex-presidente do STF seria nosso primeiro presidente negro. Presidiu a suprema corte no auge de sua popularidade. Brigava com Gilmar Mendes muito antes disso entrar na moda. Insuspeito de ser pau mandado dos petistas, foi contra o impeachment.
Não é difícil imaginar que o entusiasmo inicial pela candidatura Barbosa o lance acima do patamar de 10% das intenções de voto, quando começaria a atrair voto útil contra Bolsonaro.
Resta saber se, depois de conquistar a atenção de todos, Barbosa teria o que dizer. Há um programa pronto para ele, para todos os candidatos de centro-esquerda: redistribuição com política econômica responsável. Foi o que fez de Lula o que é hoje, é a boa ideia por trás da Rede Sustentabilidade.
Barbosa conseguiria se dedicar a esse programa sacrificando seu ego e seu prestígio como conseguiu sacrificar suas convicções de esquerda no julgamento dos petistas? Se for o caso, podemos estar diante de um estadista de primeira categoria. Se não, será uma pena. Mais uma.
Pessoalmente, ainda preferia que as candidaturas de esquerda e centro-esquerda não estivessem tão fragmentadas. Mas, de qualquer forma, será uma vergonha se a centro-esquerda perder essa. Com Bolsonaro dividindo São Paulo? É gol aberto.