(G1)
O senador Aécio Neves, do PSDB, que virou réu no Supremo, essa semana, foi alvo de mais uma acusação. Agora, um dos donos da Andrade Gutierrez disse em depoimento à Polícia Federal que fez pagamentos milionários a Aécio Neves usando um contrato fraudulento com a empresa de um amigo do senador.
O depoimento de Sérgio Andrade reforça as suspeitas que pesam sobre o senador Aécio Neves do PSDB. A informação foi revelada pelo jornal O Globo deste sábado (21).
Sérgio Andrade, um dos donos da Andrade Gutierrez prestou depoimento aos investigadores e falou sobre um contrato de R$ 35 milhões. Ele confirmou que o contrato firmado em 2010 entre a construtora e uma empresa de um amigo de Aécio Neves, do PSDB, tinha como objetivo fazer com que esse recurso chegasse ao senador.
Sérgio Andrade foi ouvido no inquérito que apura se Aécio recebeu dinheiro da construtora Andrade Gutierrez e da Odebrecht para beneficiar as empresas na construção da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia.
De acordo com as investigações, as empresas sabiam que existia um pedido de dinheiro para a campanha de Aécio Neves relacionado à essa obra.
Sérgio Andrade disse que o ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, avisou a ele do compromisso assumido e que Aécio Neves o procuraria para confirmar os pagamentos. E que Aécio realmente entrou em contato.
No depoimento, Sérgio Andrade disse ainda que os pagamentos ao senador Aécio foram feitos com base em um contrato fraudulento com a empresa de Alexandre Accioly, amigo de Aécio.
O empresário Accioly depôs, na semana passada, à Polícia Federal, neste inquérito. A informação foi revelada pelo blog da jornalista Andréia Sadi. À polícia, Accioly confirmou o repasse, mas negou se tratar de propina. Disse se tratar de investimento da Andrade Gutierrez na rede de academias dele.
O empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F, também prestou depoimento esta semana e disse ter repassado R$ 110 milhões a Aécio.
Na delação, Joesley já tinha dito, como o Jornal Nacional noticiou na sexta (20), que esse valor foi pedido por Aécio para ser dividido entre os partidos que apoiavam o candidato do PSDB na campanha para presidente nas eleições de 2014. Joesley entregou aos investigadores uma planilha com uma relação das doações e também notas fiscais e recibos para comprovar os pagamentos.
O executivo da J&F, Ricardo Saud, também disse na delação que o dinheiro era para garantir o apoio ao senador tucano, na campanha presidencial de 2014: “só que para ganhar a eleição eles precisavam comprar os partidos. Essas vendas eram feitas, uma parte em dinheiro e a outra com promessa de ministério ou cargo no governo”.
Joesley contou ainda que, mesmo após o acerto dos R$ 110 milhões, foi procurado novamente por Aécio, que pediu mais dinheiro. A eleição já tinha acabado. Mas, segundo Joesley, Aécio precisava pagar dívidas de campanha. Para mascarar a transação, eles discutiram a compra de um prédio em Belo Horizonte.
Joesley deu detalhes sobre esse pedido de Aécio na delação premiada: “em 2015, ele seguiu precisando de dinheiro, eu acabei através da compra de um prédio, predinho, não sei, não sei como lá em Belo Horizonte, por R$ 17 milhões, esse dinheiro chegou nas mãos dele. Aí depois no ano seguinte, em 2016…. Ele dizendo que esses 17 milhões era para pagar restos de campanha e tal”.
Joesley também revelou, que em 2016, Aécio pediu mais R$ 5 milhões, mas o empresário não deu: “e aí quando foi em 2016 um dia na casa dele ele me pediu R$ 5 milhões lá e eu não dei. E logo começou as investigações em cima de mim. E eu até chamei esse amigo dele, o Flávio, e pedi para o Flávio pedir a ele pelo amor de deus parar de me pedir dinheiro porque eu já tava sendo investigado”.
A defesa de Aécio Neves declarou que o senador jamais tratou de qualquer assunto indevido com Sérgio Andrade, e que não teve participação no leilão e na construção da usina de Santo Antônio. Disse ainda que a campanha eleitoral do senador, em 2010, não recebeu nenhum recurso de caixa dois.
A defesa de Aécio Neves afirmou também que as declarações de Joesley Batista e de Ricardo Saud são falsas e absurdas, que não existe prova das acusações. E que os R$ 110 milhões de reais citados por Joesley são doações oficiais de campanha feitas ao PSDB e a outros 12 partidos, e devidamente registradas na Justiça Eleitoral.
Sobre a compra de um prédio em Belo Horizonte, o senador Aécio Neves afirma que não tem nenhuma relação com o negócio, e que isso será demonstrado na Justiça. O senador disse ainda, que em toda a sua vida pública não existe um único ato em benefício do grupo JBS. E que “ele jamais fez qualquer promessa, assim como jamais participou de qualquer reunião com o delator Ricardo Saud”.
A assessoria da J&F afirmou que todos os fatos apontados na colaboração premiada dos executivos da empresa foram corroborados por provas, inclusive colhidas durante ação controlada, requerida pela Procuradoria Geral da República e autorizada pelo Supremo Tribunal Federal.
A Andrade Gutierrez e o empresário Sérgio Andrade não quiseram comentar, sob a alegação de que a investigação está sob sigilo.
A Odebrecht disse que já reconheceu seus erros e que está colaborando com a Justiça.
O empresário Alexandre Accioly afirmou que a Andrade Gutierrez tem participação minoritária em sua empresa e que ela jamais distribuiu dividendos, pois os resultados continuam sendo investidos na companhia.
Flávio, citado por Joesley no depoimento, é Flávio Jacques Carneiro. Em nota, Flávio disse que a alegação contra ele não é verdadeira. E que todas as informações serão prestadas no momento oportuno.
O PSDB disse que o senador Aécio Neves está dando esclarecimentos sobre o assunto e caberá à Justiça julgá-lo, após o exame aprofundado dos fatos.