Ex-ministro reforçará o time da velha política, em contraposição a um ‘novo’ ainda inaudito
(Igor Gielow, na Folha desde 1992, foi repórter, editor, correspondente, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasília)
A hipótese de o MDB manter o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles como seu candidato ao Planalto, conforme anunciou nesta terça (22), cristaliza uma dicotomia que poderá se mostrar ilusória ou mais concreta quando as luzes se acenderem ao fim da dança em outubro.
Desde o ano passado, pesquisas qualitativas trombeteiam para partidos e mercado que o eleitorado quer o tal “novo”. Ele veio em diversos figurinos, de João Doria a Joaquim Barbosa, passando por Luciano Huck e uma nanicada inconsequente. Mas até aqui, de diferente mesmo só um parlamentar obscuro que tenta sem muito sucesso não parecer obscurantista.
Por outro lado, os cardeais partidários e próceres do marketing político insistiam no senso comum. Campanha no Brasil é coisa para profissional, com uma arquitetura de apoios estaduais bem sólida, dinheiro e tempo, muito tempo de TV.
Os estrategistas mais novos, surgidos junto com a demanda pelo “novo”, por sua vez sonham com um Emmanuel Macron e acham que o binômio Facebook/WhatsApp tem mais peso do que horário gratuito.
Nesse cenário, poucas coisas são tão “velha política” como Meirelles, e isso é só constatação, não julgamento. Homem de coloração partidária neutra, foi tucano, aliado do PT (por nada menos do que oito anos), passeou pela sigla mais adaptável da República (PSD) e agora repousa no colo de Romero Jucá e Michel Temer.
Tecnocrata de raiz, zero trato com “o povo”. Vai nadar em tempo televisivo, podendo falar verdades (de fato a rota suicida do país foi corrigida na economia) que não se traduziram na realidade que tentarão vender (que estamos bombando e que a culpa pela lerdeza econômica é ora dos adversários irresponsáveis, ora de xeques sauditas). Mas é um discurso difícil de engolir, não menos porque vem temperado pela toxicidade ímpar de Temer.
A presença dele na disputa, que parece interessante ao MDB mas está longe de ser uma certeza dado o histórico do partido, sugere mais peso ao lado tradicionalista do pleito —já ocupado por Geraldo Alckmin(PSDB) e, em menor medida porque está fora do núcleo do poder há tempos, Ciro Gomes (PDT). O mesmo polo acomoda a oposição a Temer feita pelo PT, seja quem for o candidato.
Por ora, ocupam o outro lado da cerca imagética a transversalidade de Marina Silva (Rede) e o histrionismo de resultados de Jair Bolsonaro (PSL). O deputado é um fenômeno à parte, resultado das comportas abertas por 2013 na sociedade, mas seu envelope de voo parece delimitado. Já a ex-ministra é ela, uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma, para ser gentilmente churchilliano.
Outubro é logo ali, tão distante.