Saída de Parente escancara fragilidade de política econômica do governo

By | 03/06/2018 7:06 am

 

Subsídio cedido aos caminhoneiros pode prejudicar o caixa da Petrobras

(Deu na Folha)

 

Desde maio do ano passado, quando foram divulgados os áudios de conversas com Joesley Batista e a base aliada no Congresso se retraiu, a agenda econômica do governo Temer tem sofrido sucessivos reveses —dos quais a Petrobras tinha conseguido, até o momento, se esquivar.

 

“O governo sofreu um choque político terrível em maio de 2017 e não se recuperou”, diz o economista Samuel Pessôa, colunista da Folha. Desde então, bandeiras da gestão emedebista, como a reforma da Previdência e a privatização da Eletrobras, estão à margem por falta de apoio.

 

O pedido de demissão de Pedro Parente nesta sexta (1º) mostra que a estatal não estava tão blindada assim. Ruiu a política de preços impopular que, desde julho de 2017, permite que o custo dos combustíveis flutue de acordo com o mercado internacional.

 

“A saída [de Parente] é o ápice de um processo de deterioração da força política do governo”, diz a economista Ana Carla Abrão Costa. “A greve colocou o governo contra a parede e foram resgatadas práticas que o governo tinha vindo para mudar, como a interferência política na Petrobras, tabelamento de preços [como o do frete], ceder aos grupos de pressão.”

 

A política de preços poderia mudar porque, durante a crise na última semana, o governo defendeu que a Agência Nacional de Petróleo (ANP), e não a Petrobras, determinaria o preço de referência do petróleo.

 

Esse preço de referência será a base para o cálculo da subvenção que será paga pelo governo à estatal pela redução do preço do diesel.

 

Na prática, isso significa que o subsídio cedido aos caminhoneiros pode prejudicar o caixa da Petrobras, o que não agradou Parente. “Com essas jogadas, o governo jogou fora o que foi feito nos últimos anos de gestão”, analisa Otto Nagami, professor de economia do Insper.

 

“Parente criou mecanismos de proteção da empresa para não ter esse tipo de interferência e nunca dependeu do Tesouro para equalizar as receitas da empresa”, diz Nagami.

 

Na visão de Pessôa, a política de preços poderia ser suavizada para não impactar tanto o mercado interno, mas tem uma razão de ser. “Talvez não precise oscilar com a mesma frequência do mercado internacional, mas o preço no exterior tem que ser o grande balizador.”

 

Para o economista Alexandre Schwartsman, não faz sentido argumentar que, por ser monopolista, a empresa deva regular os preços com “sensibilidade social”, como disse Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado, nesta sexta.

 

“A política de preços é justamente uma correção da distorção do fato de a Petrobras ser monopolista”, diz Alexandre Schwartsman. “Se ela segue o preço internacional, se comporta como um concorrente perfeito. Não precisa ter refinarias [de outras empresas] no país para corrigir o monopólio.”

 

“O governo não faz a menor ideia do que está fazendo. É muito mais uma sinalização da falta de rumo do que qualquer outra coisa.”

Comentário

Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *