Bolsonaro experimenta máscara de moderado, mas não convence

By | 10/06/2018 6:18 am

 

Esforço do ex-capitão não elimina incertezas de uma possível vitória eleitoral

(Bruno Boghossian, colunista da Folha, onde já integrou a equipe do “Painel” e foi repórter de política e economia)

 

Em um jantar no início de maio, Jair Bolsonaro (PSL) respirava fundo enquanto empresários e jornalistas falavam. Em um esforço de autocontrole, o presidenciável juntava as mãos em formato de triângulo perto da boca ao ouvir as opiniões dos comensais. “Quantas vezes esperei vocês terminarem de falar? Antes, interrompia sempre”, explicou-se, no evento do site Poder360.

 

Bolsonaro ganhou seguidores graças a seu comportamento feroz, mas percebeu que precisa segurar os impulsos para aumentar suas chances na eleição. Na pré-campanha, o ex-capitão começa a ensaiar um tom moderado. Se vencer, governará com os braços agitados de sempre ou com as mãos em frente à boca?

 

O candidato do PSL é imprevisível. Num dia, critica o bloqueio de rodovias. Depois, faz uma defesa enfática dos caminhoneiros parados nas estradas. Passadas 24 horas, diz que o movimento passou dos limites.

 

As rédeas frouxas que Bolsonaro impõe a si mesmo confundem tanto os eleitores que o observam com desconfiança quanto os integrantes de sua base fiel. O ex-capitão foi criticado por alguns apoiadores, por exemplo, quando rechaçou a possibilidade de uma intervenção militar.

 

Bolsonaro respira fundo e defende uma política econômica ultraliberal, mas tem recaídas frequentes e retoma o ímpeto estatizante que marcou sua vida política. Até agora, é impossível saber se o presidenciável conduziria a economia com a mão direita ou com a mão esquerda.

 

Em campanha, o deputado coloca uma máscara conciliadora para disfarçar a fama de intolerante. Tenta controlar os rompantes que renderam uma denúncia por racismo e um processo por apologia ao estupro.

 

Há cerca de 10 dias, o ex-capitão tentou justificar seu comportamento mais contido. “Vou continuar atirando, mas agora com silenciador”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo. A metáfora bélica sugere que Bolsonaro adapta seu discurso para conquistar o eleitorado, mas pode voltar a empunhar uma metralhadora barulhenta se alcançar ao poder.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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